segunda-feira, 23 de agosto de 2010


vem, me faz um carinho
me toque mansinho
me conte um segredo
ou me enche de beijos.

melhor forma não há pra provar meu amor.
eu te presto atenção,
tento ser sua flor.

vem, te faço um carinho
eu te toco mansinho
te contro um segredo
ou te encho de beijos.


quinta-feira, 19 de agosto de 2010

sincronicidade II

- quer que compre alguma coisa pra gente comer? só trouxe batata ruffles que você pediu.
- não, não precisa. cê tá com fome?
- não... e copo, onde vamos comprar copo?
- mas pra que? compramos coca-cola e bebemos na latinha mesmo.
- eu tinha separado duas tacinhas pra gente, mas esqueci na mesa antes de sair.

(...)

- é normal ter aquela fase de querer experimentar tudo, não ter muito apego às coisas. mas a fase tem que passar. não dá pra viver pra sempre bêbada caída por aí.
- claro! e temos que priorizar algumas coisas. como os relacionamentos...
- não dá pra sair por aí atirando pra todos os lados e se desgastando com o que já nasce fracassado. só me relaciono com quem vai me acrescentar alguma coisa. pode parecer prepotência ou soar como arrogância, mas não é, não mesmo.
- é se valorizar.
- isso, é se valorizar. isso que eu demorei, mas aprendi.
- meu tempo é pouco. o tempo é pouco, sabe? tenho casa, família, trabalho, estudos. o tempo que tenho é pra estar ao lado de quem me faça ter vontade de sorrir junto. como agora.

(...)

- sexo é imaginação, é só imaginação.
- é sim, e dá pra se virar sozinho sem precisar fazer com alguém que nem se lembre o nome no outro dia. o corpo é... sagrado.
- é! é o templo, o nosso templo. acho a banalização do sexo tão lamentável. se é bonito, se rolou atração, se nem trocaram duas palavras ainda, já vão transar.
- e amanhã? e o vazio?
- e pra quem você liga, de quem sente falta? beleza não é tudo. aliás, não é nada. é efêmera demais. tudo isso é efêmero demais.
- é. o que fica é isso aqui. o sentimento.

(...)

- você gosta de chocolate?
- amo!
- então guarda. e come em casa, pra lembrar de mim. tudo de uma vez.
- um por um. pra ser mais longo e mais doce.

(...)

- vou agradecer à quem nos apresentou.
- era pra ser assim. parece que tinha que acontecer, do jeito que aconteceu.

(...)

- queria dormir de conchinha com você.
- eu também queria, hmm.
- posso te levar em casa?
- claro.

(...)

- me liga quando chegar, tá?
- te ligo. mil beijos.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Reflections of a Skyline




"E eu quero brincar de esconde-esconde, te emprestar minhas roupas, dizer que amo seus sapatos, sentar na escada enquanto você toma banho, e massagear seu pescoço. E beijar seu rosto, segurar sua mão e sair p'ra andar. Não ligar quando você comer minha comida, e te encontrar numa lanchonete p'ra falar sobre o dia. Falar sobre o seu dia e rir da sua, sua paranóia. E te dar fitas que você não ouve, ver filmes ótimos, ver filmes horríveis. E te contar sobre o programa de TV que assisti na noite anterior e não rir das suas piadas. Te querer pela manhã, mas deixar você dormir mais um pouco. Te dizer o quanto adoro seus olhos, seus lábios, seu pescoço, seus peitos, sua bunda. Sentar na escada, fumando, até seus vizinhos chegarem em casa, sentar na escada, fumando, até você chegar em casa. Me preocupar quando você está atrasado, e me surpreender quando você chega cedo. E te dar girassóis e ir à sua festa e dançar. Me arrepender quando estou errado e feliz quando você me perdoa. Olhar suas fotos e querer ter te conhecido desde sempre. Ouvir sua voz no meu ouvido, sentir sua pele na minha pele, e ficar assustada quando você se irrita. Eu digo que você está linda, e te abraçar quando você estiver aflita, e te apoiar quando você estiver magoada, te querer quando te cheiro, e te irritar quando te toco e choramingar quando estou ao seu lado. E choramingar quando não estou. Debruçar-me no seu peito, te sufocar de noite e sentir frio quando você puxa o cobertor e sentir calor quando você não puxa. Me derreter quando você sorri, me desarmar quando você ri. Mas não entender como você pode achar que estou rejeitando você quando eu não estou te rejeitando, e pensar como você pôde pensar que eu te rejeitaria. E me perguntar quem você é, mas te aceitar do mesmo jeito. E te contar sobre o 'tree angel', 'o menino da floresta encantada' que voou todo o oceano porque ele te amava. Comprar presentes que você não quer e devolvê-los de novo. E te pedir em casamento, e você dizer 'não' de novo mas continuar pedindo, porque embora você ache que não era de verdade mas sempre foi sério, desde a primeira vez que pedi. Ando pela cidade pensando. É vazio sem você mas eu quero o que você quiser e penso. Estou me perdendo, mas vou contar o pior de mim e tentar dar o melhor de mim porque você não merece nada menos que isso. Responder suas perguntas quando prefiro não responder, e dizer a verdade mesmo que eu não queira, e tentar ser honesto porque sei que você prefere. E achar que tudo acabou, espera só mais dez minutos antes de me tirar da sua vida. Esquecer quem eu sou e me deixar tentar chegar mais perto de você. E de alguma forma, de alguma forma, de alguma forma compartilhar um pouco do irresistível, imortal, poderoso, incondicional, envolvente, enriquecedor, agregador, atual, infinito amor que eu tenho por você."

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

pra machucar os corações.


(do blog Caio F Caio)


Para quem tem mais de 30, 35 anos, este disco pode ser uma tortura. Não, não é que seja um mau disco. Eu explico. Ou tento.
É que fatalmente eu/tu/ele/nós vamos lembrar. E não estou certo se essas lembranças serão boas. Ou se seriam boas, lembradas hoje, você me entende? Porque o tempo passado, filtrado pela memoria e refletido no tempo presente – agora -, parece sempre melhor. E terá mesmo sido?

Apenas, quem sabe, porque não havia fadiga lá. Aquela fadiga que se insinua, persistente, entre o ruído das buzinas e das descargas abertas nos engarrafamentos de trânsito, todo dia. Ou essa, de atravessar mais uma vez qualquer avenida às seis da tarde para, de repente, olhar a multidão também fatigada e preguntar: mas que cidade, afinal, é esta. E que vida? A quase amável, paciente fadiga de contemplar o grande relógio das repartições e escritorios, quase imóvel na sua lentidão, a partir das cinco e a caminho das seis da tarde. Para nos despejar, novamente, nas ruas entupidas de fumaça e desejos bandidos nas esquinas, dentro de carros apertados entre outros carros ou de ônibus apinhados – até o interior dos apartamentos, com seus fantasmas emboscados, uns mortos, outros vivos. E então o acúmulo de contas atrasadas, telefonemas ansiosos, telenovelas chatas, quem sabe algum plano, certas fantasias. Outra cidade, outro país, outro planeta, outra vida que não esta – uma memória de flores no cabelo e pés descalços, pouco antes do ruído do despertador e o do meu/teu/dele/nosso coração serem os únicos audíveis dentro da escuridão onde afundamos na lama de nossos sonhos mortos.

Mas eu falava – tentava – de um disco. De John Lennon.

Ele foi gravado ao vivo, no Madison Square Garden, a 30 de agosto de 1972. Há quase, portanto, 14 anos. Você tinha quantos – 15, 20, 25? E provavelmente também imaginava que, um dia, pudesse não haver mais guerras, nem países, nem ódio entre as pessoas. Um mundo novo, não é isso? Depois houve cinco tiros nas costas, e pouco antes, durante o depois, os muros das cidades pixados com frases como “flower-power is dead”. E então uma invasão de cabelos muito curtos, quase raspados, roupas negras, couro justo: a ridicularização de tudo em que você acreditou durante tanto tempo – e largou faculdade, largou família, caiu em bandos pelas estradas para sonhar com essa coisa que não aconteceu: um mundo novo. O deboche das suas antigas – e perdidas – ilusões. Patrício Bisso só sobe no palco para cantar qualquer coisa como “bolsa peruana? Sandália indiana? Hippie! Mata”. Eu rio, você ri, ele ri – nós rimos todos juntos. E temos um sutil cuidado em evitar, no vocabulário, no vestuário, qualquer detalhe capaz de nos identificar como sobreviventes daquele tempo. Agora somos mais do que modernos: demi-darks. Não temos fé, nem esperança, nem caridade. Bebemos vodca pura, cheiramos umas. Nunca mais compramos uma caixinha de incenso. E a bad-trip pinta sem química.

Tudo isso dói tanto. Eu nunca mais tinha ouvido John Lennon. O tempo corre, a gente vai descobrindo jeitos de se proteger. Elis? Nem pensar: põe aí a Paula Toller. Marc (quem lembra?) Bolan? De jeito nenhum, melhor um Boy George, cara. Let´s Roller. It´s only rock and roll. Só que eu nem sempre sei se gusto. Mas, por trás das defesas, esse vinco no canto esquerdo da boca continua avançando, cada vez mais fundo, cada vez mais longo. Você tenta reagir, sem dizer claramente não, pelo amor de Deus, não me dá esse disco pra ouvir, eu não entendo nada de música, eu não conheço John Lennon e nunca ouvi falar em Yoko Ono. Eu não tenho tempo. Não posso parar, nem pensar, nem sentir. Nem lembrar. Eu preciso ganhar dinheiro. Tenho pressa neste passo alucinado em direção ao buraco-negro do futuro.

Mas você acaba aceitando. Agora somos profissionais. Coloca no toca-discos, como quem não quer nada. Liga a TV, ao mesmo tempo. E no meio dos sons que vêm também da rua e dos outros apartamentos, de repente aquela voz tão antiga e conhecida grita:

- Mother!

Aumente o volume. Ou desligue para sempre, você me entende?

(Publicado no Estadão, Caderno 2, Domingo, 6 de abril de 1986)

terça-feira, 10 de agosto de 2010

acreditar.

.


Depois, penso também naquele quase velho poema do John Lennon: “I don’t believe in yoga/ I don’t believe in mantra/ I don’t believe in God/ I don’t believe in Freud/ I don’t believe in drugs/ I don’t believe in sex/ I don’t believe in Beatles” e termina com um acorde profundo de guitarra e um “I just believe in me”.
(Caio Fernando Abreu)

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

das minhas palavras preferidas,

sincronicidade,
sintonia,
reciprocidade,
ternura,
aconchego,
chamego,
aninhar.


as surpresas.

"eu quis te conhecer
mas tenho que aceitar:
caberá ao nosso amor o eterno
ou o 'não dá'."
(Janta - Marcelo Camelo e Mallu Magalhães)


quando você não acredita em amor. quando você não faz mais planos parecidos com contos de fadas. quando não se imagina dizendo aquelas coisas bregas nunca mais. quando 'nunca' e 'sempre' passam a ter a mesma dimensão. quando acha tudo que as pessoas pensam sobre sentimentos pura ingenuidade. quando só quer trepar. quando anota números de telefones que nunca vai ligar. quando pensa em muita gente e não sente falta de ninguém. quando as pessoas só entram como luz passageira, como cometas. quando o céu é sempre escuro.
quando alguém te faz rir. e depois te faz sorrir. quando você passa seu número e dorme com o celular embaixo do travesseiro torcendo pra ser acordada por uma mensagem. quando o céu volta a ter uma lua que você observa e imagina se a outra pessoa já observou hoje. quando você tem vontade de andar de mãos dadas por aí. quando quer um único colo. quando sente saudades do que ainda não fez. quando diz sem parar coisas bobas e piegas. quando gosta da sensação que aquelas palavras causam. quando tem vontade de fazer amor. quando acha apelidinhos bregas a coisa mais delicada que já ouviu. quando suspira ao escutar aquela - só aquela - voz. quando fecha os olhos e faz planos. quando sonha dormindo, sonha acordada, sonha junto. quando um mês parece muito e a eternidade parece muito pouco. quando o som de uma única risada ecoa nos seus ouvidos por horas. quando nenhum medo é capaz de tirar as borboletas do estômago. quando você tem certeza que aquela coisa de pessoa certa faz algum sentido. quando mesmo que fosse a pessoa errada, continuaria fazendo todo sentido. quando você quer. e diz sim. e quando você sente algo tão bom que não pode ter nome, ninguém nunca nomeou porque certamente ninguém nunca sentiu. quando você aceita as surpresas, as brigas, o carinho, a proximidade distante. quando você decide ir em frente e pede, tão frágil: me dá a mão?

domingo, 1 de agosto de 2010

sincronicidade I

— é foda, né, cara. a vida. a vida é foda. dá pra arredar mais um pouco? tá meio apertado aqui. ah, brigadão. difícil conhecer gente que é gente boa mesmo, não é não? quase não conheço, mano. e eu mesmo não sou não. tenho amor por ninguém não. é foda isso também né, perder o amor né não? pois é, mas eu sou feliz sabe? sou feliz porque eu podia tá morto mas eu tô vivo. depois que as balas do meu tio acabaram, o cara meteu bala na fuça dele. e meteu bala na minha tia que tava escondida atrás do balcão lá do bar do meu tio. tentei correr sacou? mas não deu, o grandão já tava na minha cara e sentou o dedo. lembro dele correndo e que eu tentei correr mas não conseguia mais levantar. aí chegaram uns brothers e ficaram me falando 'pô, levanta aí, levanta aí que cê dá conta, mano'. só que não dei conta não, cara, e tô sem dar conta até hoje, tá ligado? já ouvi tu contando na avenida pros mano lá que foi acidente né velho? acidente é foda, né, cara. a vida é meio que um acidente, cê não acha não? pô, eu acho. tô achando agora. foi meio que um acidente eu estar no bar e não levantar mais, tá ligado? mas é Deus né e com Deus a gente não discute. já discuti, mas não deu em nada nada. essa cadeira sua é meio ferrada não é não? tá vendo essa aqui? consegui de uma dona que comprava as blusa lá comigo na avenida. joguei uma idéia nela e ela falou 'ó dinheiro que não dou não, mas me dá seu telefone que te arrumo uma cadeira nova'. e ela arrumou, mano, isso foi numa quinta-feira. na segunda eu fui com ela escolher a cadeira. entramo na loja e começou a descer cadeira doida demais, até motorizada sacou? mas motorizada não dá pra nós que vive a vida dura né não. aí peguei duas, velho, a dona me deu duas. falando nisso a outra é bonitona e tá lá em casa, só soltou essa parada aqui ó. cê tá ligado de onde arruma? me passa seu telefone aí que vou dar a outra cadeira lá pra você que você é brother que eu tô ligado. te vejo conversando com os brother lá na avenida e sei que você é bicha mas isso não ligo não, sacou? eu sou homem e pego umas mina aí quando rola, lá no sarah eu pegava mina demais. tinha uma lá de macacos que tinha um rabão tá ligado? homem também olha o rabo dos homem? estranho isso né não? tudo é rabo. mas me passa seu telefone aí que eu vou te arrumar a outra cadeira lá, falou? quer dizer, anota o meu aí também, é esse aqui ó. e é isso aí, velho, Deus abençoa você e sua casa lá. força aí, velho. que a vida é assim mesmo.

meu lado Tati Bernardi.





"Só ele conheceu uma mulher corajosa que admitiu todos os medos, todas as neuroses, todas as inseguranças, toda a parte feia e real que todo mundo quer esconder com chapinhas, peitos falsos, bundas falsas, bebidas, poses, frases de efeito, saltos altos, maquiagem e risadas altas. Ninguém nunca me viu tão nua e transparente como você, ninguém nunca soube do meu medo de nadar em lugares muito profundos, de amar demais, de se perder um pouco de tanto amar, de não ser boa o suficiente. Só ele viu meu corpo de verdade, minha alma de verdade, meu prazer de verdade, meu choro baixinho embaixo da coberta com medo de não ser bonita e inteligente. Só para ele eu me desmontei inteira porque confiei que ele me amaria mesmo eu sendo desfigurada, intensa e verdadeira, como um quadro do Picasso."