domingo, 27 de fevereiro de 2011

querida mamãe,

eu poderia dizer tantas coisas. poderia dizer que você não tem respeito nenhum pela casa dos outros. que você não tem respeito nenhum pelas pessoas, aliás, não tem respeito nem por você mesma. poderia dizer que eu chego a te odiar quando te vejo fazendo com a minha irmã o que já fez tantas vezes comigo. e que tenho pena da vida medíocre que você leva.
mas não. o que eu vou te dizer é simples: obrigada.
obrigada por ter me feito sentir inútil tantas vezes. foi assim que eu tive forças pra provar pra mim mesma que eu era capaz, perfeitamente capaz, de qualquer coisa que eu quisesse. obrigada por ter me negado carinho e assim ter feito com que hoje eu seja uma das pessoas mais carinhosas que conheço. obrigada por não ter me ensinado a pedir desculpas: aprendi a importância de desculpar. obrigada por duvidar de mim, mãe. você pode ver com seus próprios olhos descrentes tudo que conquistei, o quanto é bonita a minha casinha simples, o quão cheia de amor é minha relação com meus irmãos, o quão dedicada eu sou com tudo que quero bem.
obrigada, mãe, por todas as vezes que você desmoronou o meu mundo.
aprendi a reconstruí-lo, tijolo por tijolo, percebe? e o meu, mãe, bem diferente do seu, o meu tem cor.


sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

o que se perde enquanto os olhos piscam?

perde-se tanto sem ver. num piscar de olhos. numa conversa mal terminada, numa palavra áspera, num olhar de reprovação, numa ausência indiferente.
perdi tanto. tantos me perderam.
é tudo tão corriqueiro, perder, encontrar, deixar ir... mas em mim ainda dói.
e como disse Cazuza, "se pudesse guardar tudo numa garrafa, bebia de uma vez".



tive um pesadelo horrível hoje. foi com a Capitu e com minha 'família'.
acordei chorando.
e não quero sair daqui, do meu lugar de conforto. não quero enfrentar o mundo, não hoje. não quero me enfrentar, não quero brigar comigo mesma.
penso em lavar a louça ou fazer algo pra comer e me dá um desespero tão grande por não ter forças, por não conseguir me manter em pé, seguindo a vida como todo mundo segue.
comecei a tomar os remédios hoje. "fé quando não tem, se inventa".

que hoje eu possa só me dar o colo e a atenção que mereço.
que eu não me cobre tanto, que eu não me fira assim, que eu me permita sentir as minhas dores.
e que permita, principalmente, que elas passem.



"diga o que disserem o mal do século é a solidão
cada um de nós imerso em sua própria arrogância
esperando por um pouco de atenção.
hoje não estava nada bem, mas a tempestade me distrai
gosto dos pingos de chuva, dos relâmpagos e dos trovões
hoje a tarde foi um dia bom, saí pra caminhar com meu pai
conversamos sobre coisas da vida e tivemos um momento de paz.
e é de noite que tudo faz sentido,
no silêncio eu não ouço os meus gritos".
(esperando por mim - legião urbana)


quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

tantas, tantas

"Descobri tantas coisas. Tantas, Tantas. Existe tanta coisa mais importante nessa vida que sofrer por amor. Que viver um amor. Tantos amigos. Tantos lugares. Tantas frases e livros e sentidos. Tantas pessoas novas. Indo. Vindo. Tenho só um mundo pela frente. E olhe pra ele. Olhe o mundo! É tão pequeno diante de tudo o que sinto. Sofrer dói. Dói e não é pouco. Mas faz um bem danado depois que passa."
Caio Fernando Abreu

a sua

minha pose de mulher forte e decidida não engana ninguém. e não é pra enganar mesmo, porque já não é só pose. descobri minha força e aprendi a usá-la. e até 'não' já sei falar.
mas quando se trata de você, tudo vira tremor nas pernas e frio na barriga. e eu já não consigo ter certeza se prefiro esquerda ou direita, verde ou azul, pra que todas essas escolhas? só quero me deixar ir, junto com as coisas... que o vento sopre o que for bom e me leve.
e de repente dá um medo... do vento ser forte demais e me levar pra longe. porque eu amo as tempestades, mas não consigo suportá-las por muito tempo. e porque eu amo a chuva calma e fina, mas não durante a noite toda.
quando a gente passa um tempo imenso se olhando e se acarinhando, ou não se olhando mas se vendo, eu tenho vontade de eternizar cada minuto. pra que não nos percamos, pra que não termine, pra que dure além das fugas e dos temporais.
e quando a gente diz coisas fortes eu tento me convencer de que é diferente de todas as outras vezes, de todas as outras pessoas, eu tento me convencer de que, com nós dois, vai dar certo. não há outra possibilidade além de dar certo.
a gente ri um do outro e do mundo inteiro, a gente se devora em beijos e os olhos não temem se encontrar. a gente babou um no outro na primeira vez que dormimos juntos e se isso não é intimidade, eu não sei mais o que é.
a gente sabe do que é preciso saber um sobre o outro, e sabe um pouquinho do que não é preciso também. e isso atormenta. me ferem muito os medos que insistem em calar as borboletas no estômago.
todas as noites eu vou dormir pensando que amanhã pode ser o último dia que somos um do outro. e eu agradeço por esse amanhã. agradeço pelo ontem, pelo carinho das mãos desde o primeiro dia, pelas risadas no meio da noite depois dos meus espasmos sonâmbulos, pelos suspiros juntos e pelo aquecer de coração que tudo isso me trouxe.
'que não seja imortal, posto que é chama'... e não, não é chama. pela primeira vez eu tenho certeza que não é - só - chama. vai além. e não tenho noção se isso é melhor ou pior.
ter você nesse instante, ser sua já, é o que tem me bastado. o amanhã me atormenta, mas o hoje me consola. e eu sei que, agora, nos seus braços é onde fiz meu lar.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

underneath

odeio cosquinhas. minha letra já foi a mais linda do colégio, agora é feia e torta. não sei escrever mais à mão e por isso meu diário de 2011 ainda está em branco.
nunca gostei de desenhar e colorir, mas sempre achei de um talento ímpar quem sabe fazer direito.
tenho facilidade de me apegar à pessoas, lembranças, sentimentos, situações, vícios. sei controlar boa parte do que sinto e faço, a não ser quando estou em crise. portanto me desapego, geralmente, quando bem entendo. e até minhas crises já controlei um pouco, embora minha psicóloga ache que isso é ilusão pura.
gosto da palavra ilusão. e da palavra transbordante. de ternura, sintonia, aconchego, sincronicidade, reciprocidade. gosto de falar pretty, petit, oblíqua. e de cantar stranger, but mine.
gosto de cantar alto, desafinado, sem ninguém ouvindo. gosto de dançar quando ninguém tá vendo. gostava mais ainda de dançar com a Capitu.
o amor da minha vida é a Capitu. e a Chérie. e isso não se discute.
sou sozinha e gosto de ser sozinha. quer dizer, eu gosto de ter gente por perto pra rir, passear, conversar despretenciosamente. mas gosto muito da minha essência solitária. me faço um bem danado quando quero e custei a descobrir isso.
gosto de conversas despretenciosas com gente despretenciosa. e gosto de gargalhar alto, sem vergonha nenhuma de estar alegre. gosto de abraçar e pular quando tô assim.
odeio cobranças. só funciono sob minha própria pressão. dou risada de quem acha que me controla, ainda que às vezes tenha razão.
sou muito debochada. mas guardo pra mim. odeio ofensas, odeio constrangimentos desnecessários.
fazer terapia foi a melhor decisão que já tomei na vida. mentira, foi a segunda melhor. a primeira foi sair da casa dos meus pais. quero ser psicóloga. e não tenham a pretensão de me perguntar o por que.
não me peçam porquês, nunca.
sou observadora e faladeira. quase nunca falo tudo que penso. imaginem então o quanto penso...
se não quiser minha opinião absurdamente direta, não peça opinião nenhuma. sei ouvir e calar quando é o caso.
analiso tudo e todo mundo. não falo sobre minhas análises, só escrevo.
nem tudo que escrevo é real. nem tudo que vivo é real. nem tudo que sinto é real. na verdade eu gosto muito de uma mentira bem dita, bem sentida e bem vivida.
queria agradecer à quem me ensinou a gostar de ler, mas eu não lembro quem foi. será que essas coisas se ensinam? não sei.
não sei um monte de coisas, obviamente. mas sei um monte de outras. e finjo ter total conhecimento sobre mais um outro monte.
choro à toa. com filme então, principalmente aqueles mais clichês, nem se fala. músicas me arrepiam, me fazem chorar, fazer dancinhas, cantar alto, dar risada, ter borboletas no estômago, independente de onde eu esteja. a música é minha namorada. e os livros são meu mundo.
odeio chorar na frente dos outros. odeio fazer qualquer coisa na frente dos outros. não sei ser eu na frente dos outros. tô tentando aprender. tenho ido bem.
tenho preguiça, muita preguiça. mas não é preguiça de arrumar a casa ou de ir à aula, como minha mãe achava. é preguiça da comodidade das pessoas. é preguiça das pessoas.
os clichês são ridículos e me emocionam. não gosto deles.
os detalhes me encantam. sou dos detalhes e das hipérboles e das metáforas e dos eufemismos.
minha memória é ruim e isso me atrapalha um pouco e me ajuda muito.
gosto de tudo que é belo, e o meu belo quase nunca condiz com o comum.
amo voz e violão, não tenho nenhum dos dois. tocar piano sempre foi um sonho, dançar ballet também. continuarão sendo, pelo menos nessa vida. eu acho.
tem muita coisa que eu quero fazer e acho que não vai dar tempo. sinto como se eu nunca tivesse tempo. e depois acho que desperdicei todo o que tinha. sou confusa, eu sei.
não me acomodo com o que incomoda e uso frases de bandas/autores/filmes onde eu bem quiser.
gosto de rabiscar. sinto falta de estudar, todos os dias. aprender é das coisas mais lindas do mundo. um dia sem aprendizado é um dia perdido, e essa frase também não é minha e eu não sei de quem é.
legião urbana, los hermanos, chico buarque, tiê, death cab for cutie, o teatro mágico, fernando anitelli trio, ludov, cazuza, cássia eller, noel rosa, zeca baleiro, sideral, seu jorge, couting crows, engenheiros do hawai, alanis morissette, nando reis, placebo, e mais um monte que não vou lembrar. não quero ser hype. me deixa com meus gostos e meu show do backstreet boys.
andar de mãos dadas e pentear os cabelos de outra pessoa são das provas mais bonitas de amor que a gente dá espontaneamente.
mordo quem amo. mas mordo só por morder também. não se iludam e nem acreditem em tudo que eu falo.
não sei nadar e nem andar de bicicleta, queria aprender os dois, mas também acho que não vai dar tempo.
tenho preguiça de assistir filmes novos e amo rever meus preferidos.
quero casar com cerimônia simples, vestido branco, penteado bonito de coque meio solto. vestir branco por fora e vermelho por dentro, como naquela música recitada pelo lázaro ramos. acho que não vou convidar minha família pro meu casamento, só meus irmãos. convidaria meus avós, mas acho que não vai dar tempo.
tenho um amor absurdo pela minha família como um todo. pena não poder entregar à eles.
minha primeira crise de depressão foi aos 15 anos e desde então o transtorno bipolar é protagonista da minha vida. tô no terceiro psiquiatra e não sei qual caixa de remédio. tenho fé. tô remando.
queria fazer algo de grandioso pro mundo, algo que fizesse a diferença. queria fazer tanta coisa e não sei como.
ócio produtivo é das melhores coisas da vida. tô tentando perder a pressa, a sensação de estar perdendo tempo. não estou: estou me construindo. e nada pode ser mais importante que isso.
preencho meus vazios com álcool, relações afetivas falsas, comida, dietas, dor, euforia, ilusões desenhadas com carinho e rasgadas com ferocidade.
quero dar o maior presente da vida da mel um dia, mas não sei ainda qual vai ser.
vou ser mãe e não vai demorar muito. mas só depois do casamento com a cerimônia bonita, da nossa casa em algum bairro mais familiar e do quintal com frutinhas. vou ser a melhor mãe do mundo, mesmo errando muito.
tenho teorias pra tudo. a maioria delas é tão absurda que nem eu acredito.
não admito falta de respeito, comigo ou com qualquer pessoa. não admito que ultrapassem os meus limites e sou exageradamente grossa quando preciso.
se perdi um amigo não quero recuperá-lo. amigos perdidos não são amigos nunca mais.
sou infantil e mimada. sou crescida o suficiente pra admitir isso. e sou briguenta o bastante pra não deixar que ninguém aponte meus defeitos quando eu não pedir.
sou minha melhor amiga e minha pior inimiga, sou competitiva só comigo mesma. quero me superar o tempo todo. quero me colocar no colo e dizer que tá tudo bem, tudo bem.
pergunta que eu mais odeio: 'como tá a vida? trabalhando-estudando-namorando?'
frase que eu mais odeio: 'cabeça vazia é oficina do diabo'.
não force uma intimidade que eu não te dei. não tente recuperar uma intimidade que já perdeu.
tenho muito amor por muita coisa, por muita gente. não sei dar amor, machuco demais.
sou péssima em dizer 'não'. não sou tão prepotente quanto parece. na verdade, não sou nada prepotente.
perfeccionista eu sou, muito. nunca é bom o bastante e sem dor não há ganho. absurdos que aprendi ao longo da vida.
tenho pavor de gente auto-piedosa. nojo de quem gosta de mostrar doença e fraqueza. vontade de estapear os vitimizados.
im.pul.si.vi.da.de.
a vaidade é meu pecado preferido. a minha característica mais destrutiva.
enjoo fácil... me perdoem. mesmo.
acredito que a gente colhe o que planta, mas não acredito em dívida com o mundo, carma ou qualquer dessas coisas feitas pra enfiar culpa garganta à baixo.
carrego o peso do mundo nos ombros. me culpo demais. sou péssima em me perdoar.
perdôo fácil, mas esquecer ou não vai depender de várias outras coisas.
tenho ciúme das minhas pessoas, das minhas músicas, meus filmes, meus livros, meus textos, meus sonhos.
não sou egoísta embora finja que sim. sou desapegada de tudo que é material - inclusive o corpo alheio. vale mais o coração, como diria renato russo e depois cássia eller.
minha vida é cheia de espaços não preenchidos, meu passado é repleto de momentos em branco. já parei mil vezes e pensei "o que eu estou fazendo aqui? como cheguei até aqui?". e continuei.
não sou igual à todo mundo, odeio quem classifica as coisas assim. ninguém é igual, ninguém sente igual. mas não sou uma aberração, não sou o lobo mau, pode chegar mais perto.
tenho uma lista de 101 coisas pra fazer em 1001 dias. vou cumprir tudo.
me arrependo mais do que fiz do que de coisas que não fiz, contrariando toda minha rebeldia adolescente.
esqueci como é ser a mulher dos lábios de cereja cultuando o hedonismo pra ser a menina bonita bordada de flor. e tem sido bom.
e que continue sendo: bom, doce, sim, eu.

achados da madrugada

"(...) E eis que depois de uma tarde de 'quem sou eu' e de acordar à uma hora da madrugada em desespero. Eis que às três horas da madrugada acordei e me encontrei.
Fui ao encontro de mim. Calma, alegre, plenitude sem fulminação.
Simplesmente, eu sou eu, você é você. É lindo, é vasto, vai durar.
Eu não sei muito bem o que vou fazer em seguida mas, por enquanto, olha pra mim, e me ama.
Não! Tu olhas pra ti e te amas.
É o que está certo."

Clarice Lispector


(o áudio tá baixinho,mas eu juro que aumentar e ouvir repetidas vezes vale muito a pena)

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

minha ciranda da bailarina

sou baixinha e nunca tive o cabelo liso. e isso não me incomodava até que começou a incomodar as pessoas que me eram queridas. então eu quis mudar, eu fiz de tudo pra mudar. e, óbvio, não deu.
sou fascinada por sapatos de salto altíssimos mesmo que eles triturem meus pés. e passo horas e horas nos salões pra dar jeito no que a natureza já fez tão bonito. meu cabelo já caiu, já foi estragado, nunca mais foi o que era. não é liso, não é cacheado. cansou de tentar agradar.
já fui a melhor aluna da escola, ganhei concurso de redação e até olimpíada de matemática. e já fiz ballet até me deixar convencer que era gorda e nunca seria uma boa bailarina. e eu não tinha nem dez anos.
eu quis ser o sorriso das pessoas. quis ser o motivo do orgulho, quis colorir a vida, a casa, os sonhos. quis ser amada com tanta força como jamais alguém amou no mundo inteiro. quis ser a única, quis ser o sol, a inspiração. a luz.
e foi aí que tudo virou noite. porque eu já não queria me ser - eu, tanto dos dramas e tão pouco das comédias. eu que não sei amar a mim mesma com tanta força. eu que renunciei às minhas cores porque não agradavam ao mundo o suficiente.
fui camaleão, adaptável, rascunho, fui mentira. fui perdição. e fiquei perdida.
perdida em mim e de mim, da minha vida, dos sonhos que a bailarina de 10 anos tinha.
me senti tão patética por ousar ter vontades próprias, por pensar que podia sonhar sozinha, que podia ser da cor que fosse.
escondi os medos, as falhas, as inseguranças, as vergonhas, as rejeições. fiquei surda para todos os 'nãos' que a vida me deu e aprendi a manipular tudo para que fosse 'sim'. e quantos 'sins' eu ouvi que não eram pra mim. e quantos 'sins' me falaram presos em ilusões que sempre desbotavam.
tudo muito intenso e tão efêmero.
me perdi, ignorei a perda, não era tão valiosa assim. e descobri que ninguém pode ser o que não é. e que nunca descobriria como é ser o que sou se não me permitisse. por uma vez que fosse.
então respirei fundo.
olhei as fotos antigas e não me encontrei ali. não gosto de música alta, de pessoas me escolhendo como boneca em vitrine, de exibir meu corpo e entregar meus beijos vazios, de exigências cada vez maiores... e eu virando fruta sem polpa, sem gosto, sem semente.
me descobri doente. e descobri que me amo tanto que me cuido. descobri que filmes cults demais me dão sono e fingir que entendi não me faz mais inteligente. que não preciso ser mais inteligente, só preciso adquirir mais conhecimento. o conhecimento que eu quiser.
descobri que gosto de vestidos coloridos, que meus pés são redondos e bonitinhos, que meus olhos se expressam muito melhor que meus peitos. que quem não me ama assim, não vai me amar de jeito nenhum, porque eu não posso ser de uma cor pra cada um.
descobri que sei amar muito e muito sinceramente. que desejar casar com cerimônia simples e ver a barriga crescendo sentindo chutinhos não é coisa de mulher fraca. é coisa de mulher com sonhos. e que ser psicóloga e ter uma pousada no meio do mato também é. e qualquer outra coisa que eu quiser é exatamente isso: o que eu quero. o que eu posso ou não fazer, por amor à mim e à tudo que me é acrescentado.
minha estatura nunca vai aumentar, não há escova progressiva que anule minha genética e não preciso emagrecer pra mostrar pro mundo que a criança-bailarina-leve-e-desprotegida voltou.
porque eu não sou mais a mulher dos lábios de cereja cultuando o hedonismo, eu não sou mais a criança frágil que pede aprovação.
eu sou a menina bonita bordada de flor. que chora com cenas dramáticas no meio da comédia e que repete frases óbvias de autores populares.
e assim, do meu jeito, do único jeito que pode ser, eu sou a cor, o sorriso e a luz... do meu lar.



Não livra ninguém
Todo mundo tem remela
Quando acorda às seis da matina
Teve escarlatina
Ou tem febre amarela
Só a bailarina que não tem
Medo de subir, gente
Medo de cair, gente
Medo de vertigem
Quem não tem?

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

é...

“Mas gosto, gosto das pessoas. Não sei me comunicar com elas, mas gosto de vê-las, de estar a seu lado, saber suas tristezas, suas esperas, suas vidas. Às vezes também me dá uma bruta raiva delas, de sua tristeza, sua mesquinhez. Depois penso que não tenho o direito de julgar ninguém, que cada um pode — e deve — ser o que é, ninguém tem nada com isso. Em seguida, minha outra parte sussurra em meus ouvidos que aí, justamente aí, está o grande mal das pessoas: o fato de serem como são e ninguém poder fazer nada. Só elas poderiam fazer alguma coisa por si próprias, mas não fazem porque não se vêem, não sabem como são. Ou, se sabem, fecham os olhos e continuam fingindo, a vida inteira fingindo que não sabem.”

Caio Fernando Abreu

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

mea culpa sai pra lá

por que será que a gente vive procurando culpados?
há quem culpe Deus, o diabo, os pais, o ex-namorado, a inveja alheia, o passado, a falta de tempo, a sociedade no geral... e há quem culpe a si mesmo, que é a pior e mais cruel culpa que existe.
gosto de pensar que não existem culpados, e sim responsáveis. e em outros casos nem isso: algumas coisas não acontecem simplesmente porque não têm que acontecer. eu sei, visões conformistas não me agradam também. mas algumas coisas são ou não independente da nossa aceitação.
somos responsáveis pelo o que sentimos, até quando não causamos situação nenhuma que levasse àquilo. se você cultiva tristeza, a responsabilidade por sentir e viver com isso é sua, só sua, ainda que seu namorado tenha terminado sem motivos, que sua família te rejeite, que você não tenha o emprego dos sonhos. você pode até não poder fazer nada pra mudar as situações que te chateiam (o que é caso raro, diga-se de passagem), mas o que faz com o que sente sim, é sua responsabilidade. mesmo que você tenha depressão ou qualquer outra doença que te leve à certos sentimentos só você pode procurar se tratar e sair desse quadro.
resumindo: mais importante que encontrar o culpado é encontrar a solução.
tout passe, nada é imutável e a vida sorri pra gente todas as manhãs. só precisamos decidir sorrir pra ela ou não.
e se agora você não consegue sorrir, não há por que se desesperar ou desistir de lutar. se você não consegue dar um passo à frente, pare. fique aí, em pé, recuperando o fôlego. cuide de você enquanto está parado. tempo perdido é tempo onde não se evolui, onde não há crescimento ou aprendizado. e se você quer um emprego novo, esquecer o namorado, aceitar a rejeição da família, lutar por direitos sociais, mudar o mundo em que vive ou o que não te afeta diretamente, há de precisar de muita força. se alimente de coragem e se faça bem. faça alguma coisa por você. se conheça, se respeite, se aceite e se fortifique. tome impulso e dê o próximo passo. os outros virão bem mais leves e mais firmes. e você nunca mais estará no mesmo lugar.
cuide de si mesmo e construa o seu mundo. o resto é só o resto.

eu sonho, tu sonhas, nós realizamos

foi só ver uma foto e consegui me lembrar do que há muito tempo havia me esquecido: dos meus sonhos.
engavetei-os todos, por serem diferentes e absurdos demais pra vida que levo hoje em dia, pra vida que as pessoas esperam que eu leve mais tarde, pro pouco tempo que faltaria pra colocá-los em prática e a pouquíssima oportunidade deles se realizarem.
eu não gosto dos clichês. eles me incomodam, soa forçado, ensinado, ensaiado. então passei a fugir dos meus, como se eles não fossem assim tão meus. e são, eles são.
a foto era de uma bebê linda, recém-nascida, a pele rosadinha, os olhos fechados, mãos tão pequenas...
e eu me lembrei que o meu maior sonho sempre foi ser mãe. que meu instinto materno é imenso e que todas as crianças se sentem bem ao meu lado.
e lembrei também que repeti feito um mantra que não mais sonhava com isso. 'não quero estragar a vida de alguém como estragaram a minha'. mentira pura, a verdade é simples: 'quero criar uma pessoa de bem, rodeada de amor e compreensão, passar o que de bom me foi ensinado e aprender a não errar o que erraram comigo'.
lembrei também que quero uma família bonita. não tô falando de família perfeita, porque a minha vista de longe sempre foi, e vivi um inferno durante anos. tô falando de família de verdade, com brigas, carinhos, colo, risadas, incentivos, companheirismo, cuidado.
família construída com vontade e responsabilidade. com casa bonita pintada por nós mesmos, todos os anos. com quintal grande pras crianças e pros cachorros. com parede de tinta lavável pra que eles exerçam a criatividade à vontade. com cozinha clara, espaçosa e cheia de detalhes que vou escolher cheia de carinho. com quarto aconchegante e cama grande, pra suportar as noites de namoro do casal sempre apaixonado e também as noites de pesadelo dos pequenos. com tapete, sofá fofo e almofadas no chão pras sessões de cinema e pipoca. com piscina de plástico na grama e banho de mangueira com todo mundo correndo. com preocupações com as contas à pagar anotadas centavo por centavo na nossa agenda. com recados e puxões de orelha pregados na geladeira antes de ir trabalhar. e desenhos, muitos desenhos coloridos pra espantar o mau-humor matinal. bilhetinho embaixo do travesseiro pedindo desculpas pra não dormir com briga. e conchinha durante a noite pra proteger e embalar o sono bom. com beijos de bom dia, de saudade, de carinho, de nariz, na testa, nos olhos, nas mãozinhas... sem vergonha de dizer 'eu te amo', 'me perdoa', 'muito obrigada' e 'eu preciso de você'.
pode faltar presente caro, pode faltar carro do ano, pode até faltar luz quando a gente esquecer de pagar a conta atrasada, eu faço um jantar à luz de velas lindo.
o que nunca vai faltar é amor. e amor é tão amplo que abrange o respeito, o carinho, a compreensão, a ternura, a responsabilidade, o riso de todo dia.
e não é que eu não queira viajar, estudar, lutar por direitos melhores nessa vida... é claro que eu quero! afinal é nesse mundo que eu tô construindo agora que meus pequenos rabiscadores de parede vão viver, não é? :)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

tão eu que apavora

Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu queria amar o que eu amaria – e não o que é. É também porque eu me ofendo a toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato para mim. Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. Talvez eu tenha que chamar de "mundo" esse meu modo de ser um pouco de tudo. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário(…). Eu que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escandalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu.

Clarice Lispector

dos outros e tão meu

Sou cheia de manias. Tenho carências insolúveis. Sou teimosa. Hipocondríaca. Raivosa, quando sinto-me atacada. Não como cebola. Só ando no banco da frente dos carros. Mas não imponho a minha pessoa a ninguém. Não imploro afeto. Não sou indiscreta nas minhas relações. Tenho poucos amigos, porque acho mais inteligente ser seletivo a respeito daqueles que você escolhe para contar os seus segredos. Então, se sou chata, não incomodo ninguém que não queira ser incomodado. Chateio só aqueles que não me acham uma chata, por isso me querem ao seu lado. Acho sim, que, às vezes, dou trabalho. Mas é como ter um Rolls Royce: se você não quiser ter que pagar o preço da manutenção, mude para um Passat.

Fernanda Young

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

'os girassóis fiz pensando em você'



das coisas lindas que a gente descobre depois de anos e anos de convivência...

do meu amôzim.

clem,

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

pra cantar, pra sorrir, pra amar e pra viver

(aviso: esse é o post mais bobo da história desse blog)


eu quero ser a 'menina com uma flor', a 'menina bordada', o 'fogo', o seu 'teenage dream', a 'menina do balaio', a 'sua flor, seu bebê', a 'maria do joão' que andava nua pelo seu país...
seu 'relicário', a 'perfeita simetria', a sua 'morena', o seu feito tão importante quanto o 'descobrimento do brasil'...
definitivamente a 'dona da sua cabeça'.
cansei de ser o 'refrão do bolero' e a menina 'urbana'.
quero ser o 'amor pra recomeçar' e o seu 'ponto fraco', já que todo mundo tem o seu, 'por que não eu?'
quero te cantar o que há 'underneath your clothes'. te dizer que 'meu amor, meu bem, me ame' e ter 'uma criança com o seu olhar'.
estar ao seu lado 'quando o carnaval chegar', te levar pra pular d'a pedra mais alta', fazer a nossa 'janta' e fazer do seu dia 'um dia perfeito'.
'vamos fazer um filme', tentar descobrir a 'idade do céu', e ver 'o tempo' engatinhando 'de janeiro a janeiro'.
você tem que ser meu 'gago apaixonado', meu 'pierrot apaixonado', e pode até 'não ser chico, mas tem que tentar'.
me faça uma 'canção de outono' e nunca uma 'song to say goodbye'.
eu 'wish were you here'... porque o 'seu olhar' me leva pra qualquer lugar dentro ou fora do 'mapa-múndi'. e essa é a nossa 'fuga nº 1'.
'ainda bem' que você me entende e aceita, mesmo sendo assim um tanto quanto 'exagerada'...
'you&me' 'falling in love again'...

que a 'sina nossa' seja esse 'último romance'... e que seja 'pratododia'.
pra você me abraçar 'por tudo que for'...


terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

'cause

porque às vezes você me olha como se estivesse admirando alguma obra de arte simples e bonita. e porque você tem a risada mais gostosa do mundo, que me faz rir junto, mesmo que seja só por causa dela.
porque você tem covinhas, cachinhos nos cabelos e mãos lindas. porque você usa anel de coquinho no anelar da mão direita, como eu. porque você assume quando algo te emputece ou quando algo te emociona. porque você não tem vergonha de admitir o que sente, seja ciúme ou saudade.
porque quando eu estava em outra cidade, vivendo outras coisas mas com o pensamento aqui, você me mandou uma mensagem no celular pedindo 'volta por favor'. e eu voltei. eu tô aqui pra você.
porque me arrepio toda com o seu beijo. e porque continuo me arrepiando só de lembrar dele, horas ou dias depois.
porque quando você me abraça eu sinto meu corpo amolecendo todo entre os seus braços. porque eu amo todas as sensações diferentes e assustadoras que você me causa. porque eu quero cultivá-las, dia após dia.
porque você me dá vontade de namoro de portão desde o primeiro dia.
porque você não me dá medo, só me dá carinho.
porque você cuida de mim, do meu sono, da minha alimentação. e porque quando ouviu todas as minhas maluquices não quis fugir. disse que largava o emprego e cuidava de mim.
porque as pessoas não gostam de ver que estamos juntos e nós rimos muito disso - juntos.
porque somos ciumentos e inseguros e impulsivos e ri-di-cu-la-men-te apaixonados.
porque eu amo todas as músicas que você toca pra mim. e porque eu amo a sua sinceridade quando diz que já tocou certa música pra outras, e que essa que vai tocar agora é só minha.
porque você compõem pra mim. e tudo que você faz é lindo e carregado de sentimento.
porque você me leva à lugares que eu nunca visitei antes - aqui dentro, com essas palpitações malucas.
e porque eu não tenho vontade de estar em nenhum lugar que você não esteja, mas quando tiver essa vontade ridícula, eu sei que você vai entender. e que o seu ciúme é curado com uma chuva de beijinhos.
porque eu amo morder e você ama mordidas. e porque você atende quase todos os pré-requisitos da minha ficha de inscrição para namorados. e eu tive vontade de voltar a fazer aula de teclado só pra tocar uma música com você e preencher mais uma das suas exigências.
porque eu quero que você conheça a minha casa, a minha filha, os meus irmãos, o meu coração.
e porque toda vez que você diz que sente minha falta, eu lembro do 'volta por favor'. volto, amor, volto quantas vezes forem necessárias. volto pro seu lado, pro seu colo, pros seus beijos, pros nossos planos.
até ficarmos velhinhos. porque eu adoro as nossas viagens no ônibus.

é dos clichês que elas gostam mais

Cazuza falava de amor no primeiro encontro. "O amor tem dessas coisas".
E que mulher resiste? Estamos propensas a acreditar em destino, amor à primeira vista, príncipe encantado. E acreditamos.

Temos mil artifícios para garantir que haverá um segundo encontro. Muitos limites e nenhum escrúpulo. A gente interpreta, fantasia, faz o jogo que vocês quiserem fazer. Não falamos sobre os problemas hormonais, a família problemática ou o trabalho que enche o saco. Só sorrimos, lindas, os cabelos sendo remexidos e retorcidos estrategicamente, o olhar de tímida vira sedução de mulher fatal em poucos segundos.
E vocês, ah, vocês... vocês compram nossas histórias. E vendem as suas. São fortes, protetores, pagam as contas, levam em casa, prometem ligar no dia seguinte.

Tive uma paixão dessas arrebatadoras há alguns meses atrás. Deixo alguns detalhes do primeiro encontro:
- eu escolhi o lugar, uma praça, à noite, temperatura de 8ºC
- ele levou minha bebida favorita e uma caixa de bombons caros
- disse que separou taças pra bebermos numa praça, mas esqueceu em cima da mesa
- concordou com todos os meus pontos de vista sobre relacionamentos
- me contou como é um filho, um pai, um homem, um trabalhador exemplar
- fez planos ao meu lado
- me levou em casa de táxi
- ligou assim que chegou em casa.

Agora duas palavras que explicam como terminou: em merda.
Tudo clichê demais, por isso encantador. E, obviamente, artificial e falso.

Há algum tempo atrás tive um primeiro encontro com um cara que tinha acabado de terminar o namoro e estava arrasado. Nem era pra ser um encontro, eu também tinha acabado de terminar o namoro com o galanteador da praça e estava péssima. Fomos a um boteco pra beber e chorar as mágoas.
E ele tentou me beijar.
- Tem certeza? Você tá confundindo as coisas.
- Tenho certeza. - tinha nada, ele me disse mais tarde.

E, olha só que coisa estranha, tivemos um segundo primeiro encontro.
Um beijo no meio da avenida mais movimentada da cidade, uns amassos pelo caminho até o bar. E ele me chama pra ir ao motel. Chorei de raiva, tá pensando que aqui é bagunça?
Ele se desculpou, fomos pra um bar, bebemos muito, falamos de todas as coisas chatas da vida, rimos e nos metemos nas conversas alheias.
Ele também me levou de táxi pra casa, mas não ligou quando chegou. Não precisava.
Sabíamos ali - eu dele, ele meu.
E assim estamos e assim estaremos até que o clichê venha nos atordoar.

Que não venha, amém.


lembrei que da última vez que passei de ônibus pela esquina da sua rua, nem reparei que tava passando de ônibus na esquina da sua rua. e que eu já quis trocar qualquer coisa pra virar aquela esquininha de mãos dadas com você de novo.
às vezes o fim do amor acontece, contrariando todas as teorias de eternidade e até que a morte os separe. e não é que não tenha sido amor - pelo contrário, foi amor demais. amor intenso, amor tempestade, amor que varre tudo de dentro pra fora, como um furacão que chega sem avisos.
não sei o que consegue ficar de pé, se é que algo consegue... só sei que a perda do amor dói mais que a perda do amado.
meu coração não palpita mais quando falam seu nome. quando escuto uma música clichê não é em você que eu penso (o que não significa que eu pense em outra pessoa. só não é você). meus planos, quem diria, não te incluem mais. e eu não releio mil vezes o que escrevo procurando algo que você aprove ou desaprove. eu não escrevo mais nada esperando que você leia.
acho que é isso: o fim do amor é o fim da espera.
não espero mais o seu abraço enquanto durmo. não espero mais que o celular toque e aquela música ridícula grite que eu amo o jeito que você mente. não espero mais explicação pras suas decisões malucas. e nem espero que suas decisões mudem, que você mude, que o mundo conspire a favor.
a favor de que ele conspiraria?
e me dá uma pontada de dor ao pensar que não vou mais chorar lembrando do seu cheiro, que não vou mais escrever textos esperançosos pensando em um futuro nosso. dói perder esse amor, porque com ele se foram muitos pedaços meus. e reconstruir algo devastado tão cruelmente parece muito mais difícil do que consigo fazer.
queria eu ligar para as amigas, a irmã, a psicóloga, e dizer: tô-sofrendo-muito-porque-ele-me-deixou. queria ficar bêbada e ter vontade de te enviar uma mensagem um pouco nostálgica, um pouco vadia, um pouco romântica. ou cogitar a idéia de parar na sua porta e dizer que te amo, que te quero, que te entendo e que te espero.
não, não mais. não amo, não quero, não entendo... e não espero. nada, nunca mais.
nem seu cheiro, nem seu beijo, o jeito torto de andar, a voz firme dizendo coisas simples, a mão grande encaixada na minha mão pequena e o olhar profundo.
terminou. enfim, o término em mim aconteceu.
adeus, meu estranho mais recente. foi um prazer tê-lo aqui dentro do peito. e o prazer é ainda maior de expulsá-lo sem culpa, sem arrependimento: só adeus.


eu não sei voar

“Ela pisou sem dó no meu meio sorriso, fazendo ele virar um pavor inteiro e verdadeiro.
Eu canso dos meus meio sorrisos tanto, tanto, que prefiro que a vida seja assim mesmo. E aí me pergunto se chorei de tristeza profunda ou alegria libertadora, o que acaba dando no mesmo porque minha profundidade me liberta.
A barata preta, enorme e voadora posou no canto da minha boca. E eu pude chorar todos os meus medos no seu sofá e eu pude ficar curvada do jeito que a minha sombra, que só eu vejo, é. E eu pude borrar todos os meus disfarces e ficar feia sem culpa, porque a dor consegue ser sempre maior do que qualquer culpa, por isso o meu vício em sofrer.
Eu chorei a nossa imperfeição, eu chorei a saudade enganada da nossa perfeição, eu chorei a nossa necessidade de não se largar, eu chorei a nossa necessidade de se largar, a nossa necessidade de fugir do mundo em nós e a nossa necessidade de fugir de nós encontrando amigos.
Eu chorei o nosso ego que sempre tem respostas para tudo e não pode perder, chorei o nosso silêncio cansado de perguntas e desprovido de interesses, a pobreza do mundo que nos impossibilita de sermos felizes sem culpa, a falta de simplicidade que eu tenho para ser feliz e eu chorei o espaço da nossa alma que ainda falta evoluir.
Eu chorei o nosso medo de não sermos o que sonhamos. Eu chorei o medo que eu tenho de não ser quem você quer e o medo que eu tenho de ser exatamente o que você quer.
Eu chorei porque precisava de colo, porque precisava te mostrar a minha fragilidade escondida no meu mau-humor. Eu chorei de birra do meu lado homem.
Eu chorei porque vez ou outra ele ainda bate na minha porta e eu o deixo entrar, e eu sei que isso é medo do tanto que você habita todos os lugares.
Eu chorei porque eu te amo, mas eu não sei amar. Eu chorei porque eu sempre canso de tudo e tudo sempre cansa de mim. Chorei de cansaço profundo de sempre cansar de tudo e tudo sempre cansar de mim. Chorei de apego ao cheiro do novo e principalmente de melancolia pelo cheiro do velho. E chorei porque tudo envelhece com novos cheiros e a vida nunca volta. Eu chorei de pavor da rotina, de pavor do fim, de pavor de sair da rotina e começar outros fins.
Eu chorei meu medo de submissão, o meu medo de vomitar, o meu medo de me mostrar pra você tanto, tanto, e não ter mais o que mostrar. Eu chorei minha infinidade de coisas e o medo de você não querer abrir os mais de um milhão de baús que existem escondidos na caixa cerrada que eu guardo embaixo do meu peito. Eu chorei meu fim e o medo do meu infinito.
E eu teria chorado cinco anos se você não me dissesse que já era hora de parar. E eu chorei depois cinco anos escondida, porque eu não sei a hora de parar e não quero que ninguém me diga.
Aliás, eu quero sim. Eu quero que você me diga quando for a hora de parar, de continuar e de não pensar em nada disso.
Eu quero que você me acorde com uma lista de horas e outras lista de anos e outra lista de encarnações. Eu quero que você me dê a mão e me ensine o que é um relacionamento porque eu só sei andar de quatro, cheirando xixis nas ruas e rabos alheios.
Eu quero que você me ensine a ser uma mulher para você.
Ao mesmo tempo eu quero que você suma porque eu só quero ser uma mulher para mim. Eu me quero só para mim.
Era minha a dor de ser solitariamente para mim. E você a substituiu pela dor de não querer mais ser solitariamente só para mim. Mas tudo é dor afinal, e eu não sei ser leve, eu não sei voar, mas a barata que vôou para o canto da minha boca, sabe.
Eu carrego o esgoto no meu ventre negro, mas não sei voar como ela. Por isso ela ainda consegue ser melhor do que eu.
E com todos os meus poderes para estragar a vida de alguém, eu ainda tenho medo da barata.
Porque ela sabe ser misteriosa, ela sabe incomodar sem abrir a boca, ela sabe enojar o mundo com sua meleca branca sem ter que mostrá-la a ninguém.
Ela é muito mais misteriosa do que eu.
Em comum temos as chineladas do mundo e todos os seres amedrontados que querem acabar com a nossa raça. Mas o poder dela ainda é muito maior do que o meu, porque ela não ama, ela não se sente traída pelas chineladas do mundo.
Ela não sabe o que é não entender nada desse mundo e ter medo do tempo. Ela não sabe o que é ter nas mãos o poder de construir e destruir e ter tanto medo desse poder.
Ela vive no esgoto e não sabe o que é ter tanto medo dele.
Ela aparece sem ser desejada e não sabe o medo que não ser desejada causa.
Ela é uma barata e nunca vai saber o medo que a gente sente de se sentir uma.
E eu chorei tanto que finalmente transformei meu meio canto de boca num bico inteiro. E chorei porque tenho tanto medo de tudo o que é inteiro, que prefiro viver tudo na cabeça, enquanto o corpo relaxa na minha cama, longe de tudo.
Eu deito na minha cama e imagino tudo o que pode acontecer, enquanto não toco de verdade na vida para não cansar demais e depois não ter forças para viver de verdade. Mas acabo dormindo e deixo pra depois.
Mas eu chorei justamente porque descobri que viver na cabeça também é um tipo de coragem, porque eu não protejo a alma de feridas e nem de descanso.
Mas aí ela, preta, imunda, nojenta, indesejada, um pedaço do esgoto, voa em minha direção e me coloca em movimento. E eu corro pra bem longe e não penso, só corro.
E isso é tão diferente para mim, estar em movimento de fora para dentro, que eu choro de emoção.
Eu não pensei, eu vivi. Eu corri dela, eu vivi o medo. Eu vivi o nojo. E eu chorei de dor de sair da minha bolha interna.
Ela me fez ter vontade de gritar para o mundo nojento para que ele deixe meu coração em paz. Meu coração que quer amar em paz e esquecer que a vida pode ser nojenta.
E eu corri de tudo o que é nojento, e eu chorei porque com tantas coisas lindas me acontecendo, eu precisei de uma barata para me lembrar de sentir a vida fora da minha bolha.
Ela perfurou minha proteção e saiu da minha rotina. Ela invadiu tudo e me lembrou que as coisas podem dar erradas sim, quando se menos espera, e não adianta nada estar com o chinelo preparado na mão para se defender da vida.
A vida voa na sua cara, esbarra no seu rosto, suja sua vaidade, corrompe suas certezas, e você não pode fazer nada. A não ser lavar o rosto e começar tudo de novo.

Tati Bernardi



segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

oscilação

aprendi essa palavra com uma amiga: oscilação.
e de repente uma coisa predominante na minha vida tinha sido nomeada (desvendada?).

e têm sido assim as últimas semanas...

um dia o mundo é meu e faço dele o que quiser.
no outro não quero mundo, não quero fazer nada, não quero ser eu. não quero ser nada nem ninguém.
amanhece e tem um sol novo, um dia onde tudo pode ser diferente.
de repente tudo é diferente do que eu quero.
e aí eu passo a não saber nada que quero.
no outro dia? tenho certezas, só certezas.
e amanhã é amanhã, só Deus sabe, me deixa aqui quieta...

não, não é isso ser bipolar.
isso é instabilidade, oscilação.
comum à todos os pobre mortais atordoados.

acho que a depressão tá dando tchau e a mania não chegou.
esse vão entre uma e outra é o lugar onde eu deveria sempre estar, e pasme:
o único que me aterroriza.




eu não vou mudar não,
e vou ficar são mesmo se for só.
não vou ceder.
Deus vai dar aval sim,
o mal vai ter fim.
e no final, assim calada,
eu sei que vou ser coroada
rainha de mim.

pretty, pretty, please...



fuckin' perfect - pink

fiz uma curva errada, uma ou duas vezes
cavei até encontrar a saída, sangue e fogo
decisões ruins, tudo bem
bem vindo à minha vida tola

maltratada, esquecida, incompreendida
senhorita "nem pensar que está tudo bem"
isso não me parou
enganada, sempre em segundo plano
subestimada
olha, eu ainda estou por aqui...

linda, linda, por favor,
nunca se sinta como se fosse menos do que perfeita pra caralho
linda, linda, por favor,
se em algum momento você se sentir como se fosse nada,
você é perfeita pra caralho pra mim

você é tão má quando fala sobre si mesma
você está errada.
mude essas vozes na sua cabeça,
faça elas gostarem de você ao invés.

tão complicada, olha como nós estamos fazendo
cheia de ódio
esse jogo é tão cansativo...
chega, eu fiz tudo que pude
persegui todos os meus demônios, eu vi você fazer o mesmo.

linda, linda, por favor,
nunca se sinta como se fosse menos do que perfeita pra caralho
linda, linda, por favor,
se em algum momento você se sentir como se fosse nada,
você é perfeita pra caralho pra mim

o mundo inteiro observa enquanto eu engulo o meu medo
a única coisa que eu deveria estar bebendo é uma cerveja bem gelada
tão fácil mentir, e nós tentamos, tentamos e tentamos
mas nós tentamos demais, é um desperdício do meu tempo

cansei de olhar pras críticas,
porque elas estão em toda parte.
eles não gostam dos meus genes, não entendem meu cabelo,
sempre tão rigorosos com nós mesmos o tempo todo
por que fazemos isso?
por que eu faço isso?

oh, linda, linda, linda...
linda, linda, por favor,
nunca se sinta como se fosse menos do que perfeita pra caralho
linda, linda, por favor,
se em algum momento você se sentir como se fosse nada,
você é perfeita pra caralho pra mim

você é perfeita, você é perfeita pra mim







chorei, fiquei toda arrepiada.
não dá pra fugir...
certas coisas sempre vão mexer com a gente.

oh, pretty, pretty, pretty...






que escolhamos nossas próprias etiquetas




"Breve, mas o recado é libertador".


ô Listhiane...

domingo, 6 de fevereiro de 2011

o que será (à flor da pele)

Chico Buarque de Hollanda

O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

mon petit Chérie


obrigada por me fazer ter vontade de viver em uns dos dias mais difíceis da minha vida.
obrigada por me mostrar que ainda sou capaz de amar com todo o coração.
obrigada por me fazer ter vontade de te ensinar coisas bobas e coisas fofas, por me fazer acreditar que posso e devo ensinar coisas ainda.
obrigada por me fazer rir com seu ritual pra fazer cocô.
obrigada por me morder mais de leve quando eu reclamo.
obrigada por me olhar com essa carinha fofa quando tá cansada e me obrigar a descansar com você.
obrigada por bagunçar ainda mais a casa pra que eu levante e vá arrumá-la.
obrigada por me deixar protegê-la. obrigada, muito obrigada por me proteger.
obrigada por me ajudar a conversar melhor com a Capitu.
obrigada por aprender tão rápido todas as coisas que lhe são ensinadas e deixar que eu fique com os méritos.
obrigada por ser fiel, leal e companheira, como nenhum humano ousa ser.
obrigada pelas lambidas, pelos latidinhos estridentes, pelas roçadas de cabeça na minha mão.
obrigada por me receber correndo e feliz, como a sua irmã fazia.
obrigada por me amar, me cuidar.
obrigada por ser minha família. muito obrigada, minha pequenininha.


pena, penas

"Não sinta pena de mim, sou um competente e satisfeito ser humano. Sinta pena de outros que irritados reclamam que constantemente rearranjam suas vidas como fazem com as mobílias. Falseando atitudes e amigos, a confusão deles é constante e ela atingirá todos aqueles que eles encostarem.

Com eles, cuidado: uma de suas palavras favoritas é “amor”.
E cuidado com aqueles que apenas tomam instruções de seu Senhor. Por eles terem falhado completamente em suas próprias vidas."


Às Raposas, Charles Bukowski

mas quem disse que a gente precisa ser sempre feliz?

"Agora não dá mesmo pra ser feliz, é impossível. Mas quem disse que a gente precisa ser sempre feliz? Isso é bobagem. Como Vinícius cantou "é melhor viver do que ser feliz". Porque, pra viver de verdade, a gente tem que quebrar a cara. Tem que tentar e não conseguir. Achar que vai dar e ver que não deu. Querer muito e não alcançar. Ter e perder. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e dizer uma coisa terrível, mas que tem que ser dita. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e ouvir uma coisa terrível, que tem que ser ouvida. A vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado pra trás, cai. Dói, ai, dói demaais. Mas passa. Está vendo essa dor que agora samba no seu peito de salto agulha? Você ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela. Juro que estou falando a verdade. Eu não minto. Vai passar."

(Caio Fernando Abreu)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

estória

eu devia ter uns 10 anos (sim, eu sempre fui precoce) quando assisti Da Magia à Sedução, um filme com a Sandra Bullock, não sei se você conhece. são duas irmãs bruxas e eu quis assistir por isso, achava que era meio bruxa, afinal de contas estranha eu sempre fui. e o filme passou a ser o meu preferido até que eu assisti Titanic, mas isso é outra história.
não foi meu preferido por causa das bruxas, não. a personagem da Sandra Bullock faz um feitiço pedindo pelo homem perfeito na concepção dela. o que marca é que ela pede um homem que tenha um olho verde e outro azul, pensando que assim nunca seria atendida.
eis que ele chega: protetor, bonito, seguro, forte. um olho verde e outro azul.
eu ficava imaginando se um dia meu homem perfeito chegaria.
até que comecei a me perguntar o que ele precisaria ter pra ser o "meu" homem perfeito.
enumerei muitas coisas... bonito, alto, um pouco forte, sorriso safado, mãos grandes, barriga bonita, peito largo, etc, etc, etc...
na adolescência a gente não sabe muito bem do que realmente precisa, embora jure que sim.

hoje eu sei que só queria alguém que enxergasse a vida de um jeito diferente.
e talvez isso explique porque eu achei tão lindo você dizer que meu esmalte lilás era verde...




da falta de esperança


"Minha lâmpada de cabeceira está estragada. Não sei o que é, não entendo dessas coisas. Ela acende e, sem a gente esperar, apaga. Depois acende de novo, para em seguida tornar a apagar. Me sinto igual a ela: também só acendo de vez em quando, sem ninguém esperar, sem motivo aparente. Para a lâmpada pode-se chamar um eletricista. Ele dará um jeito, mexerá nos fios e em breve ela voltará a ser normal, previsível. Mas e eu? Quem desvendará meu interior para consertar meus defeitos?"

(Caio Fernando Abreu)


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

perhaps, perhaps, perhaps...

"Não fizeram planos. Talvez um voltasse, talvez o outro fosse. Talvez um viajasse, talvez outro fugisse. Talvez trocassem cartas, telefonemas noturnos, dominicais, cristais e contas por sedex, que ambos eram meio bruxos, meio ciganos, assim meio babalaôs. Talvez ficassem curados, ao mesmo tempo ou não. Talvez algum partisse, outro ficasse. Talvez um perdesse peso, o outro ficasse cego. Talvez não se vissem nunca mais, com olhos daqui pelo menos, talvez enlouquecessem de amor e mudassem um para a cidade do outro, ou viajassem juntos para Paris, por exemplo, Praga, Pittsburg ou Creta. Talvez um se matasse, o outro negativasse. Seqüestrados por um OVNI, mortos por bala perdida, quem sabe. Talvez tudo, talvez nada. Porque era cedo demais e nunca tarde."

Depois de Agosto, Caio Fernando Abreu.