terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

é dos clichês que elas gostam mais

Cazuza falava de amor no primeiro encontro. "O amor tem dessas coisas".
E que mulher resiste? Estamos propensas a acreditar em destino, amor à primeira vista, príncipe encantado. E acreditamos.

Temos mil artifícios para garantir que haverá um segundo encontro. Muitos limites e nenhum escrúpulo. A gente interpreta, fantasia, faz o jogo que vocês quiserem fazer. Não falamos sobre os problemas hormonais, a família problemática ou o trabalho que enche o saco. Só sorrimos, lindas, os cabelos sendo remexidos e retorcidos estrategicamente, o olhar de tímida vira sedução de mulher fatal em poucos segundos.
E vocês, ah, vocês... vocês compram nossas histórias. E vendem as suas. São fortes, protetores, pagam as contas, levam em casa, prometem ligar no dia seguinte.

Tive uma paixão dessas arrebatadoras há alguns meses atrás. Deixo alguns detalhes do primeiro encontro:
- eu escolhi o lugar, uma praça, à noite, temperatura de 8ºC
- ele levou minha bebida favorita e uma caixa de bombons caros
- disse que separou taças pra bebermos numa praça, mas esqueceu em cima da mesa
- concordou com todos os meus pontos de vista sobre relacionamentos
- me contou como é um filho, um pai, um homem, um trabalhador exemplar
- fez planos ao meu lado
- me levou em casa de táxi
- ligou assim que chegou em casa.

Agora duas palavras que explicam como terminou: em merda.
Tudo clichê demais, por isso encantador. E, obviamente, artificial e falso.

Há algum tempo atrás tive um primeiro encontro com um cara que tinha acabado de terminar o namoro e estava arrasado. Nem era pra ser um encontro, eu também tinha acabado de terminar o namoro com o galanteador da praça e estava péssima. Fomos a um boteco pra beber e chorar as mágoas.
E ele tentou me beijar.
- Tem certeza? Você tá confundindo as coisas.
- Tenho certeza. - tinha nada, ele me disse mais tarde.

E, olha só que coisa estranha, tivemos um segundo primeiro encontro.
Um beijo no meio da avenida mais movimentada da cidade, uns amassos pelo caminho até o bar. E ele me chama pra ir ao motel. Chorei de raiva, tá pensando que aqui é bagunça?
Ele se desculpou, fomos pra um bar, bebemos muito, falamos de todas as coisas chatas da vida, rimos e nos metemos nas conversas alheias.
Ele também me levou de táxi pra casa, mas não ligou quando chegou. Não precisava.
Sabíamos ali - eu dele, ele meu.
E assim estamos e assim estaremos até que o clichê venha nos atordoar.

Que não venha, amém.


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