hoje, pela primeira vez em muito tempo, você foi de novo a minha irmã caçula. sim, depois de muito tempo, afinal você é tão mais forte e tão mais madura que eu... que às vezes me esqueço dos 4 anos de diferença que tenho, surpreendentemente, a mais que você.
tive vontade de fazer como fazia quando éramos crianças: esperar você dormir - baixar a guarda - e mexer nos seus cachinhos loirinhos a procura de te acarinhar e te livrar da coceira dos piolhos - agora problemas tão cruéis.
e a vontade de te abraçar enquanto suas lágrimas caíam foi tão forte que eu sinceramente não sei como não o fiz. minha promessa de te visitar amanhã, de levantar seu ânimo ainda que o meu esteja morto, nada mais foi que vontade de te levar pra aquele mundo bonito que tínhamos quando éramos só duas crianças com a vida pela frente.
a vida pela frente... isso que temos e não notamos, que deixamos escapar pelos dedos. admito que a minha escape, mas não a sua. não a sua que pode ser tão linda quanto você deixar que ela seja. e você já é tão, mas tão linda, Michelle... e não consegue perceber e deixar que as coisas do seu lado se contagiem com sua gargalhada divertida, só deixa que sejam no máximo seu sorrisinho discreto e tímido.
'princesa linda demais, perfeita aos olhos do Pai. alguém igual a você não vi jamais'. todas as vezes que escuto essa música me lembro do quanto você é maravilhosa e do quanto eu queria te deixar brincar na minha casinha que passei horas montando, do quanto queria que você fosse a madrinha da boneca que ganhei ontem do nosso pai, do quanto queria dormir te fazendo cafuné quando você tivesse irritada.
queria segurar sua mão bem forte e te mostrar que o mundo pode ser o que quisermos que ele seja. e que eu vou te ajudar a querer um mundo melhor, mais macio, mais algodão doce... tão doce quanto aquelas nuvens que olhamos hoje e tentamos dar formas à elas.
elas não pareciam perto hoje? não pareciam seu algodão doce, com todos aqueles fiapinhos que você quase tocava? tudo pode parecer, e eu prometo que vou te ajudar a ver. prometo.
como no filme que te contei hoje (a minha ansiedade de contar e a sua de ouvir, tão parecidas)... como naquele filme com o galã que jamais teremos e mesmo assim continuaremos suspirando juntas por ele (ou por aqueles que se foram?)... como naquele filme que o irmão mais velho perdido protege a irmã pequena e introvertida... lembra?
ele contou que gandhi uma vez disse que não importa o que façamos em vida, será insignificante. mas é importante que faça, porque ninguém mais faria.
ninguém mais. só você.