segunda-feira, 22 de novembro de 2010

ela sempre falando por mim...

"Mas você com esse seu jeito só seu, de não me permitir saber o que esperar de você, me faz te odiar tanto e querer tanto a sua atenção. E me faz querer tanto você daqui a pouco, porque você não enjoa. Você me cansa demais mas não enjoa."
(Tati Bernardi)

libriana equilibrada

a pessoa espera a semana inteira pela terapia, ansiosamente.
precisa chorar, conversar, desabafar, falar o que tá sentindo de verdade. pre-ci-sa.
pega o ônibus errado, atrasada (!!!) e chega descabelada e sem maquiagem. toc toc, ei, bom dia! abraça a terapeuta, coloca a bolsa no sofá macio. 'água, né, ana?' 'é, água'.
pega o copo, senta no sofá macio, coloca a almofada tampando a imensa barriga imaginária.
é a hora de desabafar, então...
não. é a hora de fingir de forte/foda/não tô nem aí pro mundo. até pra terapeuta. pra terapeuta, porra.
pelo menos ela percebe que eu queria dizer o que disse... mas ao contrário.

aí a pessoa sai de lá querendo receber um abraço. e deixa um ônibus passar pra receber esse abraço. e o celular não toca. pega o próximo ônibus, foda-se o abraço, não tô nem aí pra você, seu idiota.
entra no ônibus, coloca os fones no ouvido e recomeça a leitura pela milésima vez daquele livro entediante sobre o transtorno que tem. sim, um livro sobre maníacos-depressivos consegue ser entendiante. maldito cara que escreveu.
fica entendiada. e presta atenção nas músicas. começa a chorar ouvindo legião. aí o celular toca, 'oi, amorzinho, onde você tá?' 'no ônibus, você disse que ia ligar 12:05 e são 12:25' 'ah, fiquei com medo de ligar e atrapalhar a terapia...' 'é, tô indo embora' 'queria tanto te ver, tô com tanta saudade' 'também tô' 'mas mais tarde vou te ver então, né?' 'aham' 'então tá, já fico mais feliz' 'ahn... então tá bom' 'amorzinho?' 'oi?' 'eu amo você'.
legião? não, katy perry! teenage dream pode embalar qualquer paixão, não pode? risinhos e coração tumtumtumtumtumtumtumtum.
até o cazuza aparecer e fazer as lágrimas voltarem porque, putaquepariu, que letra, que voz, que melodia, que música, que putaquepariu, que eu!
e a katy perry insiste em dar as caras cantando firework, não dá pra resistir, tenho que cantar alto, entrar no clima da música cause baby, i'm a fiiiiiiiirework!

daí a pessoa decide ir visitar a mãe e os irmãos. precisa de abraço, precisa desabafar, chorar, colocar tudo pra fora.
chega, abraça. escuta os problemas deles, fica horas e horas numa terapia individual e depois horas e horas em terapia familiar. tudo termina com as pessoas falando 'você me faz tão bem, me dá força, me sinto melhor agora'.

eu faço bem. eu dou força.
eu tô na merda e eu sou fraca.
porra. e meu colo, quem é que vai dar, hein?!

cansei de brincar de mulher-maravilha.
(e não consigo abandonar o papel que inventei e as pessoas amaram)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

outra canção tristonha

(Thiago Pethit)

Dessa vez eu vou tentar sorrir
Nem que seja só pra constatar que eu não consegui
E mesmo assim você não estará pra ver, em vão,
Eu tentar sorrir assim sem jeito em meio à multidão
Cada vez mais longe você vai ficar de saber
Se há motivos pra eu cantar
Ou só pra fazer
Outra canção tristonha, sentimental, sobre você

Se acaso um estranho vier perguntar
Eu finjo que engasguei que engoli o ar
Tiro o pensamento fora de órbita
Invento um circo ou outro lugar
Pois quando for a hora de eu me despedir
Quando o avião partir
Eu vou saber


domingo, 7 de novembro de 2010

para uma menina com uma flor

porque eu queria que esse texto tivesse sido escrito pra mim.
ou que alguém se sentisse assim comigo, pra mim, por mim.


"Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, que aliás você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.
E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras. E porque você quando sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre num nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, como uma santa moderna, e anda lento, a fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der aquela paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.
E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta mas não concorda porque é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas. E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara– na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando. E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.
E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena; é um vazio tão grande que as outras mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse, cantando sem voz aquele pedaço em que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.
E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora – tão purinha entre as marias-sem-vergonha – a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nestas montanhas recortadas pela mão presciente de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa. E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos – eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão, de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfeitando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações – porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor."

*

Texto de Vinícius de Moraes.

moça, interrompida.

"As pessoas perguntam. 'Como você foi parar lá?' O que querem saber, na verdade, é se existe alguma possibilidade de também acabarem lá. Não sei responder à verdadeira pergunta. Só posso dizer: É fácil.
E é mesmo fácil escorregar para dentro de um universo paralelo. São tantos... O mundo dos insanos, o dos criminosos, o dos aleijados, o dos moribundos... talvez o dos mortos, também. Mundos que convivem com este mas não lhe pertencem, embora a ele se assemelhem.
Georgina, minha companheira de quarto, chegou de repente e por inteiro, quando cursava o antepenúltimo ano da Universidade de Vassar. Estava no cinema, vendo um filme, quando uma grande onda negra a engoliu. Por alguns minutos, o mundo se obliterou totalmente. Ela compreendeu que tinha enlouquecido. Olhou em redor, no cinema, para ver se aquilo acontecera com todos, mas as outras pessoas continuavam absortas no filme. Saiu correndo, pois a escuridão do cinema, somada à escuridão que inundava sua cabeça, era demais.
'E depois?', perguntei.
(...) 'Muita escuridão', ela respondeu.
Mas a maioria das pessoas chega aos poucos, abrindo de furo em furo a membrana que separa aqui do lá fora, até aparecer uma brecha. E quem resiste a uma brecha?
No universo paralelo, ficam revogadas as leis da Física. Nem sempre o que sobe desce, um corpo em repouso não tende a permanecer assim e nada garante que toda a ação corresponderá a uma reação igual e contrária. O próprio tempo é outro. Pode correr em círculos, refluir, saltar ao léu de hoje para ontem. Até a disposição das moléculos é fluída. Uma mesa talvez seja um relógio; um rosto pode ser uma flor.
Estes fatos, porém, você só descobre mais tarde.
Outro aspecto curioso do universo paralelo é que, embora ele seja invisível pelo lado de cá, depois que entramos fica fácil enxergar o mundo do qual viemos. Às vezes, o mundo do qual viemos nos parece vasto e ameaçador, trêmulo e instável como uma imensa gelatina; outras vezes, é uma miniatura fascinante, a girar, reluzente em sua órbita."

brisa

- Ela é tão livre que um dia será presa.
- Presa por quê?
- Por excesso de liberdade.
- Mas essa liberdade é inocente?
- É. Até mesmo ingênua.
- Então por que a prisão?
- Porque a liberdade ofende.
(Clarice Lispector - Um sopro de vida)

sábado, 6 de novembro de 2010

heart shaped box

porque ontem você me olhou daquele jeito que me desarma e disse "você é o meu amor". e eu senti que sim, que eu sou o seu amor, e sorri. porque você completou com "você nunca deixou de ser. eu sempre te amei" e meu coração já não suportava o ritmo acelerado das batidas. e porque você me encontrou - dentro, dentro - com os olhos e disse "eu amo você". e eu disse "amo você também" e nos beijamos daquele jeito tão doce e tão urgente - tão nosso.
e porque você disse que tem sido impulsivo, que tem sido ciumento. e eu tive vontade de te dizer que eu sempre esperei que você demonstrasse que me queria só pra você. e que eu sempre quis ser só de alguém. e porque o jeito que nós nos tocamos e nos olhamos é único, é quente, é terno.
porque você disse que tava com vontade de ir pra casa quando eu ia te dizer exatamente isso. porque você faz todas as minhas vontades e fica feliz por isso. porque você disse que comigo é diferente, que a gente sempre termina fazendo amor. e eu não achei isso nada cafona, embora eu goste muito de quando a gente trepa. porque você sabe, tão bem quanto eu, que o a nossa ligação é muito forte, que não dá pra fugir dessa força.
porque a gente se beijou, se devorou, se amou, se cuidou, se curtiu. porque acordar ao seu lado, fazer carinho na sua mão e receber seus beijinhos nas minhas costas são umas das melhores sensações desse mundo.
porque você acorda me querendo como se fosse a primeira e a última vez. e porque você anda de mãos dadas comigo na chuva quando o dia mal começou, pra me levar pra cumprir meus compromissos. e porque você se importa com algo que eu reluto em te mostrar, e entende a importância do seu apoio no meu caminho.
porque eu amo ver você comendo pastel como se fosse o melhor paladar do mundo e porque você fica uma graça com a barba suja de farelos. porque eu amo a nossa cumplicidade nas coisas mínimas.
porque você acredita que eu sou capaz e isso me faz acreditar também.
porque eu vivo querendo que você diga que me ama - e ontem você disse! -, mas eu aprendi a sentir o seu amor. e porque isso é tão mágico que não consigo fugir, mesmo que eu seja especialista em fugas.
porque eu não quero estar sem você, sem seu cheiro, o som do seu sorriso ou o toque da sua pele. porque eu não quero estar sem essa certeza de que com você tudo não só pode ser, como sempre é diferente. e único. e intenso. e doce. e inabalável.
porque eu guardo você no meu lugar mais bonito, mais cheio de amor, com os sentimentos mais puros e safados, com toda aquela esperança e com todo esse brilho nos olhos que eu nem sabia que existiam de verdade.
porque eu amo você. e amo amar você. e mesmo que o 'pra sempre' não exista, todos os nossos momentos foram tão felizes que valeram por toda uma eternidade.




"a gente se reconheceu de longa data quando se viu pela primeira vez na vida".
(Tati Bernardi)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

stranger but mine

(e-mail quase antigo)

'mas foda-se. não você. meu pensamento. foda-se. hahaha. tô feliz porque essa semana eu consegui ser eu, pelo menos na maior parte do tempo. e porque você não deixa as borboletas se aquietarem. e porque eu fico rindo feito uma idiota quando toca a música que cê me mandou. e porque fico cantarolando stranger but mine quase o dia todo. e porque te quero perto. e é tão bom querer alguém perto. e é tão melhor esse alguém ser você.'



even tough i know you have a lot in your mind, the future, the pass and the planes you might fly... i just want to tell you that this love is true. you're a stranger, but you're mine.

tempestades

hoje quase te falei das minhas urgências. quase tentei te explicar a tempestade que cai e inunda tudo aqui dentro, que é maravilhosamente assustadora. pensei em te falar que essa minha ansiedade é por um motivo único e insolucionável: a vida. tentei imaginar uma maneira de te perguntar se você entende. se você sente. enquanto deslizava os dedos pelo seu braço e observava sua tatuagem bem abaixo da sua cicatriz, me perguntei quais outras marcas você traz no corpo, na memória, na vida. imaginei se suas marcas poderiam ser parecidas com as minhas. quis me aninhar grosseiramente no seu corpo e te dizer 'tenho urgência de viver' como quem confessa um pecado delicioso.
mas você não entenderia. até agora você não entendeu. você me acha tranquila, diz que bebo pouco e que é fácil conviver comigo. e tenho raiva e esperança quando você diz essas coisas. talvez você não me olhe o bastante pra enxergar meus furacões, mas talvez - quem sabe? - ao seu lado minhas tempestades estejam se tornando mais brandas. se você vê uma mulher tranquila que beija suas mãos, eu tento ignorar a mulher explosiva que quer te sentir dela, nela e só por ela. é só encostar um pouco mais minha pele na sua e a nossa química cuida da única urgência que consigo te revelar agora... só por sentir que essa nossa ansiedade é perfeitamente compartilhada. e depois, quando adormecemos juntos, por breves momentos, esqueço de todo tipo de pressa. só tenho calma. minhas vontades têm o ritmo das batidas do seu coração e cada um dos seus suspiros me embala na calmaria de, agora, sermos só isso, nada mais, não quero mais: o amor aconchegando o amor.






(eu amo o cheiro da sua pele quando acabamos de acordar)