sexta-feira, 29 de abril de 2011

me lembro de no meio de brigas familiares me perguntarem "o que você está pensando da vida?" e do quanto eu achava aquela pergunta patética. a vida lá era pra ser pensada? a vida é pra ser vivida, meus senhores, até o último minuto. vocês não lêem, não? não escutam samba, mpb, rock? que mundo é esse onde vocês vivem e a vida precisa ser pensada?
e quantas vezes me perguntavam também "o que é que você quer da vida, Ana Paula?". essa pergunta sim me instigava. sou das querências, algo eu havia de querer da vida também, óbvio. não achava resposta, e como para todas as coisas que eu não tinha solução, eu as inventava. felicidade-sucesso-amor-carinho-respeito-sossego-inspiração. mas nesse mundo de certezas e respostas coisas abstratas não são toleradas. e então eu inventava ainda mais fundo: um trabalho que me dê muito dinheiro, uma casa enorme, um carro caro, uma moto mesmo eu não gostando e não sabendo pilotar, escola particular e renomada para meus filhos, um marido bonito e com status, ser magra e bonita para sempre, invejada pela minha inteligência e sagacidade.
a minha real vontade era só uma: fugir. de mim, deles, do mundo.
e só o tempo - tão desleal comigo, ah, o tempo - me mostrou que a pergunta que importa de verdade é "o que a vida quer de mim?". ela me quis com muitos medos e muita coragem. com muitos problemas e muita força. me quis frágil algumas vezes, me mostrou que há mais heroísmo em levantar de uma queda ao chão que em alçar vôo.
a vida me quis sozinha, dos silêncios e dos ecos. das descobertas sombrias. mais dos dramas que das comédias. e que se há de fazer? me fizemos - ela e eu - assim.
a vida esperou de mim decisões firmes e passos largos e nem sempre pude atendê-la. quando pude fui aplaudida de pé pela única platéia que realmente importa: minha consciência. me quis com colo quente e ouvidos macios, com fala aveludada que acalenta os desolados, com um instinto materno e protetor incontrolável.
me quis de desejos ferozes e insaciáveis. de teimosias e argumentações intermináveis. de pulso firme, porém de cabeça aberta.
a vida fez de mim uma pessoa fiel às suas vontades e crenças, e à nada mais.
não importou o que eu quisesse da vida: hoje não há marido com status ou carro importado que sacie minha sede. e fugir não adianta mais.
meu destino é encarar, é enfrentar, persistir.
e se amanhã a minha vida mudar de idéia, não há nada que eu possa fazer senão obedecê-la e seguir.

3 comentários:

Andante disse...

Achou a resposta e quebrou os feitiços, se tornou tão humana minha doce amiga

Kine disse...

eu já comentei com você, estranho comentar agora, não tenho criatividade pra comentários, exercite sua memória, guarde meu comentário na caixola ; )

A Equilibrista disse...
Este comentário foi removido pelo autor.