domingo, 1 de maio de 2011

inquietude

minha irmã bordava e eu acompanhava com os olhos. inquietos, como minhas mãos. gesticulavam muito enquanto eu contava um caso atrás do outro, assuntos mil sem nunca ter fim.
eu precisava de repouso. sabia disso tão bem quanto também sabia que não conseguiria tê-lo. os pensamentos são velozes demais, não se aquietam, não dão sossego.
pensava em bordar, mas se caso não conseguisse colocar a linha na agulha de primeira tentativa, certamente enfiaria a agulha no dedo, a quebraria ou gritaria mil palavrões como se pudesse ofendê-la. perdia a razão, logo eu, veja só, a pessoa que mais se obriga a ser racional que já conheci em toda minha vida.
era capaz que eu acreditasse que minha agulha se entortou de propósito, só pra que eu não conseguisse fazer o que havia planejado para aquela tarde. que ela queria me envergonhar, me fazer passar por tapada na frente da minha irmã. e então eu ficaria ainda mais irada com a pobre e não restaria nem um pedacinho pra contar história na caixinha dos bordados.

quando meu irmão namorava a Magá (que hoje é das minhas melhores amigas) costumávamos passar o domingo juntos, toda a família reunida na casa da minha mãe. almoçávamos, comíamos alguma sobremesa deliciosa que a cunhada preparava e depois conversávamos e ríamos o resto do dia deitados na cama grande e espaçosa.
algumas vezes eu não me calava, não deixava mais ninguém falar. perdia a noção completamente. emendava um assunto no outro e geralmente eles não tinham ligação nenhuma. freud, dificuldade de aprendizado, psicopatas, os erros do meu pai, as coisas que meus irmãos e eu aprontávamos quando mais novos, medos, planos futuros, o assunto do momento na televisão... uma coisa logo se encaixava na outra e não tinha espaço pra mais ninguém opinar.
"era cansativo", a Magá me disse uma vez, "eu ficava pensando o que estava acontecendo com você, se era possível que ninguém reparava que algo estava errado, não era normal alguém ficar daquele jeito, você não conseguia desligar, não parava de falar e se movimentar, tinha idéias malucas e ninguém conseguia acompanhar seu raciocínio. eu achava que era uma depressão diferente. sabia que tinha algo errado ali".

não gosto de gritos. minha educação foi feita na base da conversa (sim, podem acreditar).
a Mel insistiu três vezes que eu estava com fome, agorinha a pouco.
CA-RA-LHO, ME DEIXA EM PAZ, QUER SABER ATÉ A HORA QUE EU TÔ COM FOME? VAI TOMAR NO CU. foi assim que eu respondi.




ando raivosa. inquieta. geniosa, teimosa. agitada. im-pul-si-va.
estou perdendo a razão novamente e acredito que seja só um efeito colateral.
o problema todo é que eu não quero parar. é melhor assim. tudo muito intenso... muito eu, muito meu. só meu.

3 comentários:

Michelle disse...

Saudades de bordar com você e mais ainda daqueles finais de semana super família.
Pois é, demoramos, mas descobrimos o que acontece com você né?! E quer saber?! Concordo com você... É bom te ver assim (mesmo que as vezes esteja BEM nervosa), é bom ver você intensa, afinal a Ana que eu conheço é intensa em tudo. Intensa no amor, na alegria, na inteligência, na bondade, na dor, na sensibilidade e até no perfume. Hahahaha.
Te amo demais.
Você é perfeita, SEMPRE!

Kine disse...

Intenso.

A Equilibrista disse...
Este comentário foi removido pelo autor.