segunda-feira, 5 de setembro de 2011

pensei que um dia te mostraria tudo que escrevi sobre você. não foram poucas coisas. você me atormentou durante muitos anos. quer dizer, não era bem você, claro. você nem mesmo me procurou - nem um torpedo, uma ligação, um e-mail, um raio de uma carta, caralho! desde que prometeu se afastar, foi o que fez. teve aquela vez que conseguiu passar na auto-escola e me ligou eufórico com a novidade. despediu-se e sumiu. "ele volta", pensei. não voltou. o que me atormentava mesmo era a sua lembrança, o seu fantasma. você continuava vivo e ainda assim era uma assombração na minha vida, que perturbava todas as minhas noites insones. remoendo essa metáfora me afundei tantas e tantas vezes no sofá fofo da minha terapeuta (sempre achei mais chique um divã, mas vá entender essas vertentes malucas da psicologia, não é?)... o que teria acontecido, o que não teria, o que seria memória emocional, o que seria fuga da realidade, o que eram as suas mãos no meu corpo naquelas noites em que nada mais importava, o que eram seus olhos que me diziam tanto mesmo quando a boca negava, o que o tempo queria nos afastando assim?
pensei que se um dia esbarrássemos em alguma rua por aí, daqui a mais alguns anos (claro, preciso de mais algum tempo de academia, um loubotin e uma chanel, aquele peeling que tenho adiado e o russian red da mac), eu te olharia como um qualquer. "oi, como vai?" "estou bem e você?" "estou ótima" e meu sorriso te mataria. você seria um fantasma morto. enfim morto. morto. mor-to.
e de tanto pensar na sua morte já cheguei a imaginar que ninguém lembraria de mim caso alguma fatalidade te ocorresse. e que talvez alguma viúva estivesse ali, recebendo as condolências e sentindo a sua perda como sua mulher. e ela não seria. não como eu. não com o meu amor. não.
o que eu não pensei, definitivamente, foi que te encontraria aqui. nesse bar, em meio à alguns amigos daquela época, sorrindo despretensioso. sorrindo. pra mim. "oi! como você está?" "estou... bem! e você?" "também! quanto tempo, hein? você está linda."
de sapatilha, batom nude do duda molinos e há uma semana sem academia por falta de tempo. eu estou linda.
"obrigada", sorri. "você aqui... passando férias?" "não... me mudei pra cá há alguns meses." sorriu e virou-se pra cumprimentar outro amigo que chegou.
fantasma filho da puta. mais vivo do que nunca.

3 comentários:

Anônimo disse...

fantasmas... eles se acumulam...

Anna Paula Passini disse...

O meu eu revi hoje, meu mais doce fantasma.

A Equilibrista disse...
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