quarta-feira, 14 de setembro de 2011

você não acha incrível como a gente se desliga do mundo quando fica algum tempo dentro do ônibus? 
eu estava voltando do trabalho, o dia havia sido cansativo. os fones no ouvido com as músicas no modo aleatório - ouvi dizer que estamos perdendo a nossa audição depois dos 25 anos de idade por causa desses pequenos objetos, dá pra acreditar? e pensei que queria te contar isso, já que você gosta de escutar música no volume mais alto. ou gostava? não sei. são tantas as coisas que eu já não sei. e isso é tão estranho.
nós fomos as pessoas mais próximas desse mundo. sabíamos a hora que o outro acordava, qual a primeira coisa que fazia no dia, provavelmente o que comeria no café da manhã. eu seria capaz de prever qual roupa você escolheria pra vir me ver dependendo da ocasião, afinal conhecia todas de cor. sabia que você não podia beber coca-cola por causa da gastrite, embora teimasse e tomasse escondido no café da manhã. conhecia seu jeito de disfarçar ciúme e de pedir carinho. sabia dos seus medos do futuro, da falta de certeza em qual carreira seguir.
você conhecia meu ponto fraco e não se importava com ele. aprendeu a fazer cafuné do meu jeito preferido. pedia meus sabores favoritos na sorveteria sem que eu precisasse dizer nada. conhecia meus sonhos e planos, e queria fazer parte deles. reconhecia quando eu mentia e ignorava algumas vezes. diferenciava meu "não" sincero do meu "não" que pedia pra você insistir mais um pouquinho. 
tínhamos as nossas intimidades, os nossos códigos, coisas que só nós dois entendíamos. nossas músicas, os filmes que assistimos juntos, nossas datas, nossas fotos, presentes e cartas.
e agora temos um abismo. uma distância tão grande entre você e eu que me pergunto se um dia tudo foi mesmo real. vejo suas fotos e quase sinto o cheiro da sua pele invadir o ambiente. sim, foi real, você foi meu, tão meu que não consigo aceitar que algo tão concreto tenha virado nada.
olhei pela janela do ônibus e vi, colado em um poste perto do sinal, um anúncio que dizia "trago a pessoa amada em 3 dias". pensei que talvez não fosse tão errado assim apelar pra esse tipo de coisa. já fomos tão felizes juntos, afinal... por que não? em três dias eu sentiria a sua pele na minha e teria novamente as nossas vidas entrelaçadas, um fazendo parte do outro. dane-se o livre arbítrio, afinal.
tentei imaginar como seria e não consegui. não sei mais quem você é. sei quem era aquele menino do sorriso aberto que vomitava quando ficava muito tempo viajando, mas ouço dizer por aí que agora ele faz viagens de dias e dias. você conhece a menina que ficava bêbada muito rápido, mas não imagina o quanto eu sou capaz de beber sem cambalear agora. o tempo foi cruel. desatou os laços e nos levou com ele.
pensei tantas vezes no que te diria se te reencontrasse... "senti sua falta", "eu ainda te amo" ou "finalmente te esqueci". e hoje só conseguiria dizer, sinceramente, "oi, estranho".

2 comentários:

Izabella Barroso disse...

te odeio :(

A Equilibrista disse...
Este comentário foi removido pelo autor.