segunda-feira, 28 de março de 2011

anna begins

é um ciclo. eu sei como funciona, já se repetiu tantas vezes. flashes de memória, nó na garganta, uma vontade de fugir, de que não fosse assim, de que também não fosse entediantemente estável.
tem a depressão, "a dor em estado bruto". apatia, lágrimas incontroláveis, sufoco, o mundo que corre num ritmo que não posso acompanhar, o abandono de tudo que me é importante por simplesmente não ter condição nenhuma de continuar. tanto tempo útil e eu aqui, inútil. a falta de esperança, e completa falta de vontade. dormir ao amanhecer pra desfrutar do silêncio da noite. muito sono durante a claridade e as oportunidades do dia. tanta culpa, tanta culpa.
e um dia eu consigo lavar louça. no outro atender o telefone. um fim-de-semana faço as unhas e me sinto menos feia. no outro saio e bebo um pouco, mesmo sem vontade. começo a procurar um outro emprego com muito medo de não dar conta. entro em um novo relacionamento como se ele pudesse me salvar da miséria de ser eu. faço planos, listas, engordo mais alguns quilos.
estabilidade. com todo o tédio e o desânimo possíveis. o tempo... tão cruel comigo. sei que logo ele acaba, que vem o furacão e leva tudo com ele, o tempo não me espera. e eu não o acompanho. sempre ficando pra trás, parada ou correndo na frente. nunca no ritmo certo.
oito horas dormidas por noite, bem bonitinho. preguiça. e medo, muito medo.
tanta vontade e tão pouca força.
emprego novo, pessoas legais, estou vendo com outros olhos ou o mundo ficou mesmo diferente? mais possibilidades de relacionamentos, alimento todas elas. emagreço, pinto e corto o cabelo, só uso decotes, o que é bonito é pra se mostrar. unhas vermelhas, maquiagem bem feita, rebolado diário.
impulsos. de ira, de gula, de sexo, de pavor, de amor, de vontades.
urgências.
o tempo voa e não espera, já disse, preciso correr. tenho tantas idéias, a cabeça à mil, se não anotar vou esquecer, mas esqueço sempre de anotar.
é tão bom seduzir. o mundo aos meus pés. e então eu piso.
bebedeiras, noitadas, hedonismo é a melhor coisa que existe, você não acha? o prazer em seu estado bruto, ah, essa euforia. ah, essas cores. ah, dormir pra que? perde-se tanto tempo. e eu não aceito perder. NADA! tudo é meu. eu sou tudo. salvo, protejo, cuido, nada de mau pode me acontecer, eu sou maior que todas as coisas e todas as coisas são tão miúdas e solucionáveis.
sem sono, sem fome, só tenho desejos. por eles, elas, garrafas, barulhos, sons, gemidos, cheiros, novidades, quanto mais melhor, sempre. e a sensação de que vou explodir. em breve tudo explode. em breve a escuridão vai vir, tá tudo claro demais, vai me cegar, eu sei.
respiro fundo. e ando no telhado do 14º andar como se pudesse voar. me meto em briga com um homem de 2m de altura porque ninguém pode comigo. e no mesmo dia prometo me matar. um dia, me acredite, um dia eu vou. isso aqui não vale de nada. eu vou explodir. vou ficar cega.
busco um colo que ninguém dá. um colo que ninguém daria, porque não existe.
minha cabeça tão boa já não memoriza nada, não se concentra, não se suporta. "tá tudo ficando diferente, eu sei", digo na terapia. "vai acontecer de novo". e acontece.
a escuridão completa. dói fundo.



no momento estou medicada. o topiramato acabou hoje, a bupropiona ainda tem pra 10 dias. psiquiatra só daqui à 18 dias. minha psicóloga pediu que, por favor, eu fosse até o hospital e ficasse esperando até ele me dar uma receita, é meu direito, minha necessidade.
e eu não quero. é ridículo, mas não quero. não sei nem o por que.
a esperança é que venha a euforia, as cores, a produtividade, a alegria inexplicável. e se não for, que venha a desistência tão grande a ponto de dar coragem.
isso tudo cansa tanto.

Um comentário:

Andante disse...

A garota das tempestades no interior, são tão belas e tão destrutivas, benção e maldição.