- ele estudou anos e anos pra isso, não acha que deve saber o que está fazendo?
- ele nem me escutou, não quis saber de nada. "esse remédio vai te fazer feliz, vai te ajudar nas suas relações afetivas". que raios de relações afetivas ele acha que eu preciso de ajuda? eu não tenho relação afetiva nenhuma!
- me dá um desse remédio? - um homem interrompeu a conversa, muito sujo por fora, tão claro por dentro. - eu também quero ser feliz. ouvi você dizendo que o médico garantiu que traz felicidade, "melhora as relações afetivas". eu também não tenho não, mas quero ter e que venha boa. me dá um remédio desse, moça?
ah, as lágrimas, a praça fria, o homem imundo, a psicóloga, a confusão mental, o atordoamento, a receita em duas vias, o exame para o fígado, a falta de tato com os próprios problemas... tudo tão próximo, tão sufocante.
- sai daqui. - respondeu ela. ao mendigo, ao transtorno bipolar, ao mundo inteiro. - sai daqui agora.
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