quarta-feira, 9 de março de 2011

pílula da felicidade

estava atordoada. o pensamento não se fixava, a única coisa concreta era a sensação de que nada daquilo jamais daria certo. tratamento, remédios, pedir ajuda... tudo em vão. mais um médico, o mesmo diagnóstico, nenhuma resolução. lágrimas. e a psicóloga, tão mais amiga que psicóloga, sentada no banco da praça fria, tentava acalmá-la:
- ele estudou anos e anos pra isso, não acha que deve saber o que está fazendo?
- ele nem me escutou, não quis saber de nada. "esse remédio vai te fazer feliz, vai te ajudar nas suas relações afetivas". que raios de relações afetivas ele acha que eu preciso de ajuda? eu não tenho relação afetiva nenhuma!
- me dá um desse remédio? - um homem interrompeu a conversa, muito sujo por fora, tão claro por dentro. - eu também quero ser feliz. ouvi você dizendo que o médico garantiu que traz felicidade, "melhora as relações afetivas". eu também não tenho não, mas quero ter e que venha boa. me dá um remédio desse, moça?
ah, as lágrimas, a praça fria, o homem imundo, a psicóloga, a confusão mental, o atordoamento, a receita em duas vias, o exame para o fígado, a falta de tato com os próprios problemas... tudo tão próximo, tão sufocante.
- sai daqui. - respondeu ela. ao mendigo, ao transtorno bipolar, ao mundo inteiro. - sai daqui agora.



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