segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

e me lembro de você em dias assim,


dias de chuva, dias de sol. e o que sinto não sei dizer.


você faz tanta falta. e imagino o quanto você deve estar cansada de escutar isso todos os dias, e toda vez que eu repito deve abaixar a cabeça e tampar os olhos com as patinhas, como fazia quando estava aqui comigo.

era assim todo dia de tarde, a descoberta da amizade. até a próxima vez...

quando você chegou nunca imaginei que faria por mim tudo o que fez. aliás, em momento algum eu imaginei. só quando, pouco antes de você partir, eu descobri que você tinha me ensinado a coisa mais linda e importante do mundo: o que é o amor.

e o resto não sei dizer... lembro das tardes que passamos juntas, não é sempre mas eu sei que você está bem agora. só que neste ano o verão acabou cedo demais... cedo demais...

você sempre foi tão travessa. diziam pra mim que você só podia ser hiperativa, e embora eu ainda não faça idéia se isso era possível, achava a maior graça do mundo concordando.
por vezes quis gritar, te colocar de castigo, te dar uns bons tapas! como é que podia estragar chapinha de cabelo, roupa, sapatilha, tapete, ursinho de pelúcia? e como é que podia abanar o rabo tão satisfeita com toda aquela bagunça? e como é que podia ter os olhos tão cheios de vida?
nem preciso dizer que, por mais que eu explodisse, tudo que eu conseguia te dar era amor, não é?
eu adoeci antes de você. aliás, quando você me conheceu, eu já estava muito doente. e você, antes mesmo de aprender a fazer xixi no lugar certo ou latir, já cuidava de mim. passava horas assistindo desenhos deitada no meu colo, me fazia sair de casa pra comprar a sua ração. fazia suas bagunças desajeitadas e eu dava gargalhadas vindas de um lugar que eu nem sabia que existia mais.
não sei como (e, o que me pergunto todos os dias, por que?), mas você adoeceu. e mal dava pra perceber no começo, porque você continuou forte e alegre. continuou cuidando de mim, dia após dia. e quando veio o diagnóstico, eu me desesperei. de repente Deus (ou o diabo) me mostrou que certas coisas não dependem de mim, que eu não sou invencível, que não poderia manipular suas dores e sua doença. e eu lutei contra, meu amor, sem forças pra lutar por mim, mas nunca deixaria de lutar por você. e nunca deixei, você sabe disso melhor que ninguém. como naquele dia que estava no meu colo - febril, fraca, com os olhos caídos e me pedindo aconchego - e eu te olhei chorando e pedi 'aguenta firme, neném. a mamãe não vai deixar nada de ruim acontecer com você. aguenta firme'. eu nem precisava pedir, é claro que você aguentaria. é claro que você não deixaria de ser a menina forte que sempre foi, nem por um minuto.
lutei muito, briguei muito, cuidei muito. mas a guerra que você venceu, Pitu, foi absurdamente maior. venceu as suas dores e venceu também as minhas. você me pedia colo pra, na verdade, me dar o seu. pulava em cima das minhas pernas e deitava o rostinho cansado em cima da minha mão como quem diz 'por favor, mamãe, cuida um pouco de mim, cuida um pouco de você'. e então a gente se cuidava e trocava o maior amor do mundo inteiro.
a doença foi cruel e piorou muito rápido. o Dr. João, a Mel, a tia Michelle, a Dai, a vovó, a mamãe... todo mundo fez tudo que pôde, lutou junto com você, tentou todos os remédios e tratamentos, todas as esperanças que nunca se apagavam. mas você pedia todos os dias pra que eu aceitasse e nos abraçávamos longamente... a minha dor era imensa por te ver partindo, mas nada se comparava a te ver sofrendo. precisava te deixar ir. e então eu soube amar.
filha, não sou capaz de falar nada sobre aquele 31 de agosto... só que a pior cena do mundo foi ver você ir embora e não poder segurar sua vida - tão breve e tão linda - nas minhas mãos. e eu quis estar ali e nunca me arrependerei disso, porque assim como você esteve ao meu lado em todas as horas, eu estaria ao seu lado também. porque eu sei que você se acalmava com os meus carinhos e com a minha voz, e que a sua partida foi mais leve ao som dos 'eu amo você' que repeti enquanto te acarinhava e beijava.
eu te amo e vou te amar todos os dias, eternamente.
e sei que vamos nos reencontrar... que quando eu chegar aí você vai me receber aos pulos como me recebia na porta de casa. e eu vou te apertar e te beijar tanto, minha Capituzinha...
enfeita o nosso cantinho que logo a mamãe vai brincar com você, bebê.



obs.: um pouquinho depois de terminar de escrever, começou a tocar nossa 'unwritten'.
ah, Pitu...


Um comentário:

Kine disse...

o amor mais puro e verdadeiro.
(eu vou comentar melhor depois, mas amor define o texto e a saudade.)